Presidente das Comissões Nacional e Estadual de Café, Breno Mesquita, critica morosidade na implementação de políticas de geração de renda para a cafeicultura.
Com mais de 20% da safra colhida, cafeicultores de todo o país reclamam da falta de recursos e de políticas de renda para escoamento da produção de forma organizada e economicamente viável. Em entrevista, o diretor da FAEMG e presidente das Comissões Nacional e Estadual de Café, Breno Mesquita, classifica a situação como “insustentável”.
Quais são os principais problemas enfrentados hoje pelo setor?
Estamos atravessando uma crise em plena colheita. O café tem baixíssimo preço no mercado e o produtor não tem capital para manter essa produção até que as coisas melhorem. É uma situação insustentável e, até agora, não estamos tendo nenhum apoio do poder público.
O Governo não aprovou até hoje o Funcafé, o que era pra ter acontecido um dia depois do Plano de Safra. Existe muita promessa, mas o que vemos, infelizmente, é uma enorme morosidade em uma safra que está sendo colhida. Não estamos tendo acesso ao recurso que nos pertence e que foi gerado por nós, que trabalhamos e nos mantivemos na cafeicultura. Estamos buscando empréstimos a juros caros para nos manter numa atividade que está nos propiciando hoje um prejuízo de mais 100 reais a saca dependendo da região.
A expectativa está em torno da liberação de recursos do Funcafé?
Todo o dinheiro do Funcafé cuja liberação foi anunciada ontem não será o suficiente. Foram liberados 3 bilhões de reais, mas esses recursos não se destinam apenas ao produtor. A indústria terá acesso, a exportação terá sua fatia e as cooperativas também. No final, pouquíssimos produtores terão acesso a esse recurso porque não têm garantia para dar. A maioria, ao longo dos anos, veio se descapitalizando e hoje se encontra com dificuldades de tomar recursos. É preciso muito mais que isso, precisamos de políticas concisas de garantia de renda ao produtor.
Como teve origem toda esta crise que o café vive hoje?
Desde o ano passado estávamos alertando que a safra deste ano seria uma safra grande, apesar de ser ano de ciclo baixo, e que precisaríamos de instrumentos como Pepro e Opções de venda para que pudéssemos manter o preço ao menos compatível com a safra, em torno de 360 a 380 reais. O que obtivemos, em lugar, foi um completo desrespeito à atividade. Começou com o preço mínimo, que não engolimos até hoje. Ainda não nos explicaram o porquê do valor de R$ 307 e por que foi descartado todo o trabalho com embasamento técnico da Conab que chegou a 336 reais, valor muito aproximado ao calculado pela Ufla em parceria com a CNA, de 338 reais.
Qual a importância do valor pleiteado e o que mudou com a aprovação de um mínimo inferior?
Com o marco de 336 reais nós teríamos condições de fazer uma política em que o Governo teria que fazer pouco e o produtor poderia almejar preços que, em tese, cobririam seus custos de produção. A 307 reais, nosso espaço de negociação diminui bastante.
Há expectativa para uma nova revisão?
A revisão do mínimo vai acontecer depois da safra. Hoje o que temos para trabalhar é esse valor de referência baixo, de 307 reais. Não concordamos até hoje, pois não nos passaram nenhuma razão ou parâmetro técnico para que o mínimo fosse este. Sem qualquer instrumento para ordenar essa safra que o Brasil está colhendo, que é grande, vamos acabar jogando-a toda no mercado desordenadamente e o preço virá ainda mais abaixo.
Como é a situação dos cafeicultores hoje?
O que temos visto, aos montes e todos os dias, são casos de produtores desesperados que estão vendendo café verde no terreiro para fazer dinheiro. Mesmo com deságio de 50, 70 reais a saca, vendem para poder honrar suas contas, pagar o funcionário pela colheita da semana. Chegamos ao ponto em que não está dando mais. Temos que deixar isso claro, porque não estamos sendo ouvidos: “Não estamos aguentando mais”. É um desrespeito não só ao produtor, mas à cafeicultura nacional, uma atividade que sempre trabalhou pelo Brasil. A palavra que resume tudo isso é ‘insustentável’.
Como reverter ou pelo menos aliviar este quadro?
É preciso atitude rápida e proativa do governo, e não é só soltando dinheiro para financiar a safra. Em vista da situação, e do agravamento já ocasionado pela falta de recursos no momento certo, hoje o setor precisa muito mais que isso. Junto ao recurso do Funcafé, precisamos de uma política de renda para o setor passando por um programa de opção e um programa de Pepro. Sem isso, a situação ficará insustentável para a cafeicultura nacional. Nós pagamos nossos compromissos, nós mantivemos os empregos dos nossos funcionários e projetamos nosso futuro. E ainda assim, não saímos do lugar. Tudo o que estamos pedindo são políticas comuns de governo para este tipo de situação. Já foi feito inúmeras vezes, pela laranja, o cacau, ou a cana-de-açúcar. São excepcionalidades e o governo tem recursos a fundo perdido exatamente para fazer políticas para produtos que estão passando por momento de crise. Além de ser muito importante para a economia, a cafeicultura é atividade extremamente democrática e pulverizada, com forte presença em todo o Brasil e principalmente entre pequenos produtores. É preciso que haja não um tratamento especial, mas um tratamento bom, digno e motivador.
Como se encontra a demanda da FAEMG por apoio aos produtores afetados pela chuva de granizo em Itamogi e região?
Conseguimos, junto aos ministérios da Agricultura e da Fazenda, recurso de 20 milhões de reais, que o produtor, dependendo da intensidade dos danos decorrentes do fenômeno, poderá pagar em até seis anos, com três anos de carência. O problema é que esse recurso já deveria estar na mão do produtor. O ciclo da planta não pode esperar a boa vontade ou a burocracia na liberação destes recursos.
Fonte: FAEMG