O setor lácteo de Minas Gerais vai encerrar o ano estagnado. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg), 2016 foi um ano desafiador. Até julho, o mercado foi marcado pela queda na produção primária de leite e pelos preços elevados do produto. Logo após este período, os valores retraíram significativamente, atingindo toda a cadeia. A instabilidade econômica e as oscilações têm impactado nas margens das indústrias, o que, aliados ao aumento das importações de lácteos e ao acesso restrito ao crédito têm deixado os industriais cautelosos e, por isso, somente os investimentos necessários são feitos.
De acordo com o presidente do Silemg (Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais), João Lúcio Barreto Carneiro, as oscilações do mercado marcaram 2016.
“O ano foi marcado por oscilações acentuadas do mercado. A princípio enfrentamos uma forte elevação dos preços dos produtores de leite e também de reajustes significativos das indústrias para o varejo. Neste período, algumas empresas conseguiram acompanhar o movimento, mas também tivemos casos de quem não conseguiu repassar o aumento dos custos. Logo após enfrentarmos um desabastecimento do mercado, estamos registrando queda muito acentuada dos preços dos produtos lácteos afetando toda a cadeia, desde o produtor até a indústria”, explicou.
Segundo Barreto Carneiro, não foi possível identificar o que provocou a queda brusca dos preços. “Ainda não conseguimos mensurar se houve queda no consumo ou aumento da oferta no mercado, já que este ano estamos enfrentando o aumento das importações de lácteos”.
Em relação ao volume produzido, a expectativa é repetir os resultados alcançados em 2015, quando o segmento também ficou estagnado. A produção deve girar em torno de 9,3 bilhões de litros de leite.
Tendência – De acordo com o diretor executivo do Silemg, Celso Costa Moreira, a queda observada nos preços da indústria é significativa e a tendência é de preços mais baixos em função do período de safra e da acomodação do mercado.
“Em meados de julho, o leite saia da indústria para o varejo com um valor médio de R$ 3,6 por litro e agora o mesmo produto é negociado entre R$ 1,8 e R$ 2,08. Esta queda atingiu toda a cadeia e o mercado ainda esta em ajuste”, disse Moreira.
Economia instável é gargalo para retomada de investimentos
A retomada dos investimentos da indústria láctea ainda não aconteceu, devido à instabilidade econômica e ao crédito, oneroso e de difícil acesso.
“É difícil retomar os investimentos pela economia ainda instável e a incógnita que o País está vivendo. Os industriais estão esperando as definições para tomar decisões. Além disso, o crédito para investimentos no setor está caro e de difícil acesso, o que limita, ainda mais, a capacidade de investimentos das indústrias”, explicou o presidente do Silemg, João Lúcio Barreto Carneiro.
Outro desafio que a cadeia de lácteos tem enfrentado são as importações de produtos. Além de chegarem ao mercado com preços mais acessíveis, as importações provocam o excesso de oferta, prejudicando a produção nacional. A Argentina e o Uruguai são os principais países a disponibilizarem produtos lácteos no mercado brasileiro, sendo o Uruguai o que exporta maior volume e, ao contrário da Argentina, não trabalha com cotas pré-definidas.
Barreto Carneiro explica que as importações ocorreram de forma acentuada em 2016, sendo um dos agravantes para que o mercado lácteo despencasse de vez. Além do leite em pó, os queijos muçarela e prato também estão sendo importados sem controle.
O volume de lácteos importado, segundo Barreto Carneiro, se comparado com o das indústrias nacionais, corresponde à produção da quinta maior do País. O volume de 15 toneladas a 20 toneladas mensais afeta diretamente o mercado interno.
“Estamos buscando apoio junto ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para que ocorra a redução das importações. O controle do volume importado é importante, porque qualquer excesso de oferta é suficiente para derrubar o mercado.
Quando isso acontece de forma inesperada afeta o setor como um todo. Os empresários não conseguem ter previsibilidade de como vai estar o mercado amanhã. O industrial tem trabalhado no escuro, o que é prejudicial”, explicou Barreto Carneiro.
Empresários e entidades vão ao Mapa pedir divulgação de dados
Na última quarta-feira, foi realizado em Belo Horizonte, o I Encontro Nacional do Setor Lácteo. O evento, que reuniu as organizações, empresários e entidades representativas do setor de lácteos, definiu ações necessárias para o avanço e fortalecimento do setor, como o levantamento dos dados e a necessidade de promover campanhas sobre a importância do consumo dos produtos.
De acordo com o diretor do Silemg, Paulo Gribel, durante o encontro ficou definido que o setor vai solicitar ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) a disponibilização dos dados sobre as indústrias do setor. A ideia é desenvolver um trabalho conjunto com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) onde serão levantados dados sobre as indústrias no País, como volume produzido e produtos fabricados. Os dados são considerados fundamentais para balizar as ações do setor.
“Nosso objetivo é trabalhar os dados do setor. Todo laticínio informa ao Mapa a movimentação e queremos ter acesso a estes dados, o que pode ser feito com o programa de gestão da Embrapa. São dados importantes que poderemos mensurar a produção nacional de cada tipo de produto e os estoques, por exemplo. Estes dados vão auxiliar os industriais a se posicionarem no mercado e definir ações de fortalecimento dos negócios”, explicou Gribel.
Também ficou definida a necessidade de estimular o consumo de lácteos, o que será feito mostrando aos consumidores os valores nutricionais do leite. “Vamos embasar as campanhas mostrando as propriedades dos produtos lácteos, comprovadas cientificamente, e as vantagens delas para a saúde humana. Com isso, queremos conscientizar a população e estimular o maior consumo de leite e derivados no País”.
Seca provoca perda na produção de mangas no Jaíba. O presidente do Sindicato Rural de Curvelo, Dalton Londe, colherá 54% a menos do previsto: “A umidade muito baixa, aliada a uma temperatura muito alta, fez com que tivéssemos abortamento de frutas muito grande”.