Os preços do leite alcançaram níveis recordes no mercado internacional, influenciados pela seca na Nova Zelândia, principal exportador mundial, e pela disputa dos compradores chineses pelo fornecimento do produto. Os custos com leite são repassados a outros produtos lácteos, o que amplifica o impacto da alta sobre os preços ao consumidor.
O preço referencial do leite neozelandês de exportação subiu 62% desde o início deste ano e atingiu recorde nesta semana, na esteira da maior estiagem do país em três décadas em termos de área afetada. A Ilha Norte, onde se produz a maior parte do leite da Nova Zelândia, está entre as áreas que mais sofrem com a estiagem, conforme informações do governo do país.
“Quase todos os fazendeiros em todas as partes da Ilha Norte enfrentam condições de aridez muito difíceis”, disse o ministro neozelandês da Indústria Primária, Nathan Guy, na semana passada. A Nova Zelândia é o maior país exportador de leite do mundo. Responde por 60% do comércio internacional de leite integral em pó, a forma mais comercializada da commodity, de acordo com dados do Departamento da Agricultura dos EUA (USDA).
Tim Hunt, estrategista do banco holandês Rabobank especializado no segmento de laticínios, prevê que a produção nos últimos meses da atual temporada será entre 15% e 20% menor do que na anterior. “A Nova Zelândia passa por uma seca severa”.
Ao mesmo tempo, os compradores na China, maior país importador, intensificaram a procura em meio a um inverno rigoroso que reduziu a produção doméstica e às mudanças nos hábitos alimentares, que ficaram mais ocidentalizados e com maior teor nutritivo, o que estimulou o consumo de laticínios. Em janeiro deste ano, as importações chinesas de leite foram aproximadamente 70% maiores do que no mesmo mês do ano passado, de acordo com informações fornecidas por Hunt.
No leilão mais recente realizado nesta semana pela cooperativa neozelandesa Fonterra, o maior grupo de laticínios do mundo, o preço do leite integral em pó subiu 21%, para o recorde de US$ 5.116 por tonelada. “Houve disputas para assegurar, antes do fim da temporada, o fornecimento limitado da Nova Zelândia”, afirmou o economista Com Williams, especializado no setor agropecuário na ANZ.
O aumento dos preços afetará grandes importadores de leite,e mais diretamente, a China. Outros grandes consumidores, como os Estados Unidos e a Europa, são em grande parte autossuficientes, mas a valorização dos preços internacionais do leite também poderá impactá-los e pressionar seus preços internos, já que exportar passa a ser mais atrativo para os produtores locais, de acordo com Hunt.
“A maré cheia levanta todos os barcos. Vai pressionar para cima os preços no atacado e levar a uma pressão generalizada de alta nos mercados varejistas”. Hunt ressaltou, no entanto, que o impacto no preço varejista dos laticínios será bem menor do que o nos preços atacadistas, já que boa parte do aumento é absorvida pelas empresas alimentícias.
“O cenário econômico, em particular na União Europeia, torna extremamente difícil repassar aumentos de preço sem impactar seriamente seus volumes [de vendas] em 2013”, disse Hunt.
(Tradução de Sabino Ahumada).
Por Jack Farchy e Neil Hume | Financial Times, de Londres e Sydney