Roberto Simões, eleito Personalidade do Ano pelo XIX Prêmio Minas – Desempenho Empresarial, é um dos nomes fundamentais para o desenvolvimento do agronegócio mineiro. Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) desde 2005 e recém-eleito para mais um mandato, é produtor rural, engenheiro agrônomo, mestre em Economia Rural (UFV) e vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O agronegócio encerrou o ano passado com um crescimento de 8,2% no PIB, comparado com 2015, graças, entre outros fatores, à safra recorde de grão e café, além da valorização dos preços de alguns produtos, como o milho. O PIB do agronegócio de Minas Gerais também foi positivo e aumentou a participação na composição do resultado nacional para 13,84%, ante os 13,36% registrados no ano anterior. Os dados são do Relatório PIB Agro – Minas Gerais, publicado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com o apoio financeiro da Seapa (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais) e apoio operacional e técnico da Faemg e Senar Minas.
Os números são positivos, mas os desafios também são muitos. O setor ainda é pouco reconhecido, na visão do presidente, e enfrenta dificuldades relacionadas à mão de obra, gestão, custos operacionais, licenciamento e logística. Mas ele garante: “Somos um setor de sucesso. Temos passado, presente e futuro. Mas também muito trabalho, porque existem lacunas ainda a serem resolvidas, que preencheremos com tecnologia e inovação. A competitividade é grande, por isso devemos ter eficiência e produtividade”, revela. Nesta entrevista a MercadoComum, ele fala sobre este e outros assuntos. Confira abaixo.
O senhor é dono de uma longa trajetória e responsável por relevantes serviços prestados ao agronegócio mineiro e brasileiro, merecedor de diversas homenagens como esta, de MercadoComum. Quais conquistas o senhor destacaria neste percurso mais recente, à frente do Sistema Faemg?
É realmente uma caminhada longa. Iniciei minha trajetória na Faemg como técnico do Departamento Econômico, como era chamado, e, em 1990, fui convidado pelo então presidente, Gilman Viana, a assumir uma diretoria executiva. Estive ao lado dele durante todo o período de cinco mandatos e, a partir de determinado período, acumulando a Superintendência do Senar, onde fiquei por 11 anos. Nós praticamente montamos essa nova entidade, que havia sido criada há pouco tempo e evoluiu tanto. Hoje eu reputo o Senar como um dos melhores deste país – senão o melhor -, com todos os seus avanços, ofertas, treinamento de mais de 200 mil pessoas por ano. O Senar é ainda o único do pais a ter a ISO 9001 [que atesta a qualidade dos cursos oferecidos pela entidade].
A Federação também mudou radicalmente e somos capazes de atender uma demanda extraordinária. Criamos o Instituto Antônio Ernesto de Salvo [INAES], área de estudos, com a oferta de treinamentos e com o objetivo de garantir que a gestão seja a melhor possível nos sindicatos, para atender cada vez melhor os nossos associados, os produtores rurais.
É curioso notar que a opinião geral é a Faemg é formada por uma elite, que é rica, o que não é verdade. A maioria dos nossos associados é de médio para pequeno porte – mais de 70% deste quadro. Então precisamos nos ater a muitos problemas, pois este público está em uma parte mais sensível do agronegócio, que até então contava com poucas iniciativas ou, sequer, programas de crédito. Precisamos então ajudar e apoiar estes produtores.
O senhor está à frente do Sistema Faemg desde 2005 e, agora, foi reeleito para mais um mandato, destacando que investirá em novos projetos de inovação e tecnologia. Esta será a prioridade do seu mandato?
É um desafio tremendo, porque esta é uma época de mudanças radicais – algumas já concretas e outras que acontecerão com mais ainda mais intensidade e rapidez. Chega um momento em que a informatização é uma urgência em nossa vida, inclusive no ambiente rural. Uma das iniciativas previstas é o lançamento do nosso programa de startups do meio rural visando, justamente, atrair a juventude para o sistema. No Senar, temos o Programa Sucessão no Campo e estamos trabalhando com as famílias, os sucessores e os que serão sucedidos; na Faemg, há o Programa Novas Lideranças. São iniciativas muito importantes para que haja modernização. Agora precisaremos ser ainda mais criativos, uma vez que não há mais a contribuição compulsória. Com isso estamos trabalhando no desenvolvimento de novos projetos, novos serviços, a fim de contribuir com nossa manutenção.
Temos todo um período pela frente para desenvolver e trabalhar com sustentabilidade, pois não é mais permitido pensar de outra forma, apesar de todas as implicações, custos e da legislação ambiental, muitas vezes dotada de tanta burocracia e dificuldades que afastam os investidores do Estado. Modernizar as regras é importante para poder melhorar nossas condições. A tarefa de mudar este cenário é muito grande, mas estamos dispostos. E é preciso haver um engajamento de todos nesta causa.
Lutamos por um processo de simplificação destas licenças. Se fosse feito desta maneira e se, por um ato declaratório, o produtor declarasse que tem pouca ou nenhuma capacidade de influenciar negativamente o meio ambiente, ele obteria o licenciamento imediato. Isso resolveria 85% dos problemas. Hoje, temos processos de três anos, ou mais, para uso da água. Hoje, a OCDE [Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico] está forçando para aumentar os custos de irrigação de água e de energia. O que significa isso? Tirar a nossa competitividade.
Apesar de todas as dificuldades, o agronegócio segue com uma trajetória positiva, com boa participação no PIB mineiro e brasileiro. Como manter este cenário?
Este é um setor que vem ajudando o Brasil desde tempos imemoriais. Quem industrializou o país foi o café. De lá para cá, mantivemos uma intensa participação no PIB, na balança de pagamentos, mas ainda não temos o reconhecimento adequado para o volume de serviços que prestamos. Estamos tentando mudar esse cenário, esclarecendo, fazendo campanhas, levando informações da Embrapa para a população. Por exemplo, dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) mostram que o Brasil preserva mais de 66% da vegetação, mesmo sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Nossas reservas são maiores do que as exigidas por lei, que pede a preservação de 20% – nós temos 33%.
Acredito que o Censo Agropecuário dará a sua contribuição no sentido de nos permitir conhecer a fundo o setor, que tanto faz pelo país e ainda sofre com pouco reconhecimento. Para se ter ideia disso: os últimos dados que conhecemos datam de 2006. A agricultura tem uma dinâmica e uma velocidade muito diferentes do que era naquela época. Felizmente, agora será possível fazer este levantamento, embora com restrições e redução de verba. Mas, pelo menos, teremos agora dados mais atuais e informações modernas sobre este setor tão importante. Minas Gerais produz entre cerca de 52% do café nacional. Se fosse um país, seria o maior produtor mundial. Mas sequer sabemos quantos pés de café existem no Estado.
Mas somos obstinados em crescer. A nossa vocação é essa. O Brasil vai continuar sendo um player mundial, Minas também. Nosso setor é forte, vocacionado e vamos continuar nesta marcha, a despeito de todos os problemas de infraestrutura que também enfrentamos, como logística de portos e de estradas, que geram tantas perdas e desperdício de produção.
É importante observar a importância da iniciativa privada nesse país. Apesar de tudo o que está acontecendo, as curvas de crescimento estão virando para cima, mesmo que estejam com uma lentidão maior do que esperávamos. Se houvesse uma boa gestão, seríamos um país de grande respeito e desenvolvimento, porque temos recursos, iniciativa forte, produção diversificada e gente capaz.
Gostaria de deixar uma mensagem para os leitores de MercadoComum?
Digo que não é preciso temer a respeito do agronegócio. Este é um setor obstinado, com uma vocação natural. É um setor que tem competência, competitividade e que continuará fazendo o seu papel, ajudando sempre o país a crescer e a alimentar este mundo.
Fonte: Mercado Comum