O setor apícola vem registrando crescimento na produção e exportação de mel e derivados. A própolis verde, produzida somente em Minas Gerais, chega a atingir mais de US$ 100 por quilo, enquanto o mel in natura recebe, em média, US$ 4 por quilo. O produto já tem certificação de indicação geográfica, e em breve contará com um selo de garantia da origem e qualidade. Em 2016, o setor faturou mais de R$ 470 milhões. O país exportou, naquele ano, segundo o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), mais de 24 mil toneladas.
Própolis verde tem origem na floração do alecrim-do-campo, nativo em regiões de mineração de ferro. A produção tem a ver com altitude, temperatura e tipos de abelhas. Muito comum no Sul, Zona da Mata e parte de São Paulo.
O mel brasileiro e seus derivados são considerados entre os mais puros do mundo e têm grande aceitação nos mercados europeu e norte-americano. “O mel brasileiro é orgânico e um dos melhores do mundo, pela alta qualidade”, atesta Andresa Aparecida Berretta, vice-presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel).
Nos Estados Unidos, o maior produtor e um dos maiores consumidores do mundo, o mel agregado (misturado com xarope de milho ou de cana) passou a sofrer restrições. Laboratórios na Alemanha, outro país de grande consumo, desenvolveram tecnologia para detectar essas misturas. Entretanto, a China desenvolveu um xarope de arroz não detectado pelos laboratórios germânicos, provocando restrições ao produto de origem asiática.
“O mel é um alimento, mas no Brasil é considerado remédio”, reconhece Cristiano Carvalho, presidente da Cooperativa Nacional de Apicultores (Conap). Enquanto cada europeu consome 1,5 quilo per capta, entre os brasileiros o consumo não ultrapassa 100 gramas. Mais conhecido in natura, ele também é utilizado na indústria de cosméticos, com variedade de produtos, cremes, hidratantes e máscaras faciais, entre outros. Muitos países europeus, segundo Cristiano, compram o mel brasileiro e agregam a produtos inferiores de outras nações, para ganhar volume e diminuir os preços. A mistura não é aceita pelos mercados europeus.
Gourmet
Nas mesas brasileira, o mel gourmet começa a ganhar espaço, assim como o vinho e a cerveja. Os grandes chefs de cozinha já introduzem em seus cardápios a harmonia de cada tipo de mel com pratos específicos. “O mercado hoje pede mel monofloral específico, como de assa-peixe, muito comum em nossa região, eucalipto ou mesmo aroeira, produzido no Norte de Minas, mais escuro e menos atrativo, mas com bom preço no mercado medicinal”, explica Getúlio Ferreira de Oliveira, técnico agrícola e produtor de mel e própolis. O mel silvestre é um mix de florações diversas.
Já o mel composto ainda tem consumo incipiente, como os de extrato de romã, guaco, plantas medicinais, mas também utilizado em cozinhas sofisticadas. Outros são sazonais e de plantas com floradas rápidas, que exigem manejo mais específico, como o café e a jabuticaba. Segundo o presidente da Conap, a validade do mel é infinita. Em temperatura ideal e umidade abaixo de 20%, ele pode durar por séculos.
O maior entrave está na perda de colmeias proporcionadas pelo uso de agrotóxicos, monoculturas em grandes extensões, provocando algumas doenças e, algumas vezes, dizimando as colmeias. “A cultura de soja, por exemplo, se dá em grandes extensões. As abelhas visitam as plantas rasteiras que nascem nessas plantações e acabam levando agrotóxico, que contaminam as comunidades de insetos”, explica Getúlio. Segundo Cristiano, o número de abelhas nos Estados Unidos é a metade da época da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940.
Jornal O estado de Minas