As medidas restritivas em vigor desde meados de março, em função da pandemia causada pelo covid-19, afetaram o mercado de produtos lácteos. Os laticínios sofreram forte retração na demanda em função do fechamento de restaurantes e redes de food service. Aproximadamente um terço da produção brasileira de queijos é destinada para o consumo de alimentos fora do lar. Por isso, a demanda foi repentinamente reprimida e isso refletiu diretamente nos preços.
No começo de março, em função da corrida aos supermercados por causa do medo da escassez de produtos, o preço subiu, contudo o quadro de pleno abastecimento, dissipou esse temor e os preços caíram nas quinzenas seguintes, veja na figura 1 o comportamento dos preços dos queijos tipo muçarela, parmesão, prato e provolone. A queda do consumo de queijos fez aumentar a oferta de leite pelos “queijeiros” no mercado spot (leite comercializado entre as indústrias), pressionando para baixo as cotações do leite.
Para o curto e médio prazos, a queda na produção de leite nas principais bacias (entressafra), agravada pelo clima adverso, aumento nos custos de produção e pressão sobre os preços pagos ao produtor podem diminuir o viés de baixa no mercado do leite, entretanto, uma recuperação nos preços dos queijos e demais produtos lácteos dependerá da retomada do consumo interno.
O consumo de queijos em 2019
Nesta análise foram utilizados os dados da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq) para o consumo brasileiro e os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para os outros países. O Brasil foi o terceiro maior consumidor de queijos em 2019 e, considerando a União Europeia (bloco econômico), o Brasil ocupa a quarta colocação. O consumo brasileiro foi de 1,12 milhões de toneladas em 2019.
Destacamos, porém, que apesar do expressivo volume consumido no país, o consumo per capita (em kg/habitante/ano) é baixo, o que revela um grande potencial de crescimento para a demanda de queijo no país. Considerando uma população de 211,05 milhões de habitantes (IBGE), o consumo brasileiro foi de 5,31 kg/habitante/ano em 2019. Apesar de consumirmos 23,5% mais que os mexicanos, por exemplo, consumimos 36,4% menos que os russos, 69,8% menos que os norte-americanos, e 74,9% menos por habitante que a União Europeia.
Expectativa para 2020
O consumo de queijos no Brasil deverá crescer 1,9% em 2020, em relação a 2019 (USDA). No entanto, esse número poderá ser revisado para baixo diante da pandemia vigente. Além do fechamento dos prestadores de serviço de alimentação (bares, restaurantes, lanchonetes e similares), a queda na renda da população gerada por essa crise afeta também a demanda por outros produtos lácteos de maior valor agregado.
Estamos na entressafra da produção leiteira, e a menor oferta de matéria-prima contribui para um certo equilíbrio frente à demanda enfraquecida. Assim como, abre espaço para possíveis altas no preço no caso de uma elevação do consumo interno.