A colheita do café, que ganhará maior ritmo a partir do próximo mês, poderá ser afetada por chuvas acima da média, em maio. O período mais chuvoso, quando comparado a maio de 2015, além de comprometer a qualidade dos grãos colhidos e que estão no processo de secagem, também estimula a floração das plantas, o que prejudica o potencial produtivo para a próxima safra. Apesar de interferir na cafeicultura, as chuvas poderão beneficiar os produtores de milho que utilizaram sementes tardias e dependem das precipitações para o desenvolvimento da safra.
O meteorologista e pesquisador em Agrometeorologia e Climatologiada da Embrapa Café (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Unidade Café) e pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), Williams Pinto Marques Ferreira, explica que a tendência de maio deste ano ser mais chuvoso que o mesmo mês dos anos anteriores se deve aos efeitos do El Niño, que teve seu pico em novembro de 2015 e agora está enfraquecendo e chegando ao nível de El Niño moderado.
“Para maio, é possível que ocorram chuvas acima da média nas regiões do Triângulo, Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Sul, Mucuri e Jequitinhonha, em Minas Gerais. Entre maio e julho, a tendência também é de chuvas mais constantes que as registradas em igual período do ano anterior, mas só teremos a confirmação em meados de maio”, explicou.
Ainda segundo Ferreira, este ano, devido às temperaturas mais elevadas e às chuvas abundantes nos primeiros meses do ano, a colheita da safra de café nas regiões mais baixas de Minas Gerais foi antecipada. Os produtores do Sul e das Matas de Minas, que já estão colhendo, devem ficar atentos ao clima, principalmente os que secam o café ao ar livre.
Nestas regiões, onde o desenvolvimento do grão foi precoce, a possibilidade de chuvas durante a colheita é extremamente indesejada. Após a colheita é preciso secar o café e a maioria dos cafeicultores faz este processo em terreiro, secando os grãos com sol e vento.
“Quando chove, os grãos que molham fermentam e perdem a qualidade, impactando nos preços de mercado. A indicação é que o produtor, em caso de precipitações, cubra o café e opte pelo secador mecânico, que apesar de ter custo mais elevado, é capaz de secar o café e preservar a qualidade”.
Outro impacto indesejado das chuvas no atual período é o estímulo à florada. Segundo Ferreira, o ciclo do cafeeiro é diferenciado e, com as chuvas, a tendência é a formação de florada, o que reduz a produtividade na safra posterior.
“Embora esteja no período reprodutivo, uma parte do ramo do cafeeiro está em crescimento vegetativo e as chuvas podem provocar uma florada, que normalmente é perdida. Este processo consome a energia da planta. Considerando que este ano estamos em um período de safra de alta, a planta vai ingressar na próxima safra ainda mais enfraquecida caso ocorra a florada”.
Diário do Comércio