A paralisação dos caminhoneiros gerou prejuízos de mais de R$ 5 bilhões ao setor agropecuário brasileiro, segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que é vinculado ao Ministério do Planejamento. Em nota técnica, o Ipea indica que, em alguns casos, será necessário mais de um mês para a regularização do abastecimento, com aumentos de preços para os consumidores nas próximas semanas.
Produtores de leite, frango, suínos, bovinos e frutas contabilizaram um impacto negativo de mais de R$ 4 bilhões, deixando de embarcar o equivalente a US$ 520 milhões, considerando somente o setor de carnes, um dos mais afetados, aponta o Ipea.
Além dos setores citados pelo Ipea, exportadores de soja, café, suco de laranja e açúcar, produtos com os quais o Brasil lidera no mercado global, também sofreram com a greve, gerando preocupações sobre a capacidade de honrar os embarques. “O que se observou durante a greve é que, em quase todos os segmentos, o produtor assumiu o prejuízo”, diz um trecho do documento. Além disso, segundo o Ipea, “o que se percebeu foi a dificuldade de se manterem os estoques e os níveis de insumos, o que acabou gerando pressão de custos para o produtor, que teve prejuízos líquidos.”
Até o momento, não é possível saber todos os prejuízos causados pela paralisação de 11 dias, que desabasteceu mercados e fábricas, resultou num pacote de R$ 13,5 bilhões em benefícios aos motoristas de frete e levou Pedro Parente a deixar o cargo de presidente da Petrobras.
De acordo com a nota técnica do Ipea, “será confirmado nos próximos dias se houve algum processo de desorganização da cadeia produtiva”, além de ser possível mensurar no detalhe o que houve com fornecimento de insumos e problemas fitossanitários, avalia a nota, assinada pelo diretor de Macroeconomia do instituto, José Ronaldo de Castro Souza Júnior.
Com a distribuição de alimentos, combustíveis e produtos regularizada, o governo reduzirá benefícios para levantar cerca de R$ 4 bilhões para manter a saúde das contas públicas ao mesmo tempo em que reduz impostos sobre o óleo diesel.
Outras medidas, como o tabelamento do frete e direcionamento de cargas da Conab, também geram críticas sobre seus impactos adversos na economia.
A análise do Ipea mostra que nas próximas semanas o consumidor vai arcar com os prejuízos absorvidos até o momento pelos produtores agrícolas, com pequeno impacto de alta na inflação que deve ser revertido ao longo dos próximos meses. No front inflacionário, o IPCA está abaixo dos 3% no acumulado em 12 meses desde maio do ano passado, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não acredita que a crise mude os rumos da política monetária.
Lácteos
Os produtores de leite do País descartaram 280 milhões de litros do alimento, ao mesmo tempo em que reduziram a quantidade de ração para as vacas, o que vai exigir de um a dois meses para normalização, diz o texto do Ipea.
“Esse manejo implicará problemas para a retomada da produção nos mesmos patamares anteriores à paralisação”, diz o documento, citando a retirada da produção de animais com mais de 200 dias pós-parto.
“Dentro da indústria, o processo de fabricação de derivados lácteos pode ser comprometido por um tempo maior”, afirma o Ipea, ressaltando que o cenário “deverá afetar diretamente os preços do leite e derivados no mercado doméstico”.
Carnes
O setor de aves e suínos registrou prejuízo direto de R$ 3 bilhões com a morte de 64 milhões de aves adultas e pintinhos –valor que já engloba perdas de US$ 350 milhões com 120 mil toneladas que não foram exportadas.
“Em relação ao preço do frango no mercado doméstico, o que se observa é que ele já vinha apresentando queda desde janeiro, acumulando cerca de 20% nos primeiros quatro meses do ano. O aumento de 30% no preço nas gôndolas… irá recuperar essa queda”, diz o documento.
O setor de carne bovina deixou de embarcar US$ 170 milhões, segundo o Ipea.
Hortifrutigranjeiros
Os prejuízos de frutas e hortaliças totalizam R$ 920 milhões, com o descarte de mercadorias. “Como o ciclo das hortaliças é curto, em termos de abastecimento, já na próxima semana o consumidor terá o produto nos mercados na maior parte das cidades.” As frutas mais atingidas foram mamão, uva, manga, goiaba e acerola.
Fonte: Diário do Comércio