Agricultura e recursos naturais são indissociáveis, pois eles se fundamentam nos cultivos das plantas alimentares, dependem do solo, da água, fauna e flora (polinizações por insetos), que respondem por até 50% das colheitas de grãos, e dos elementos climáticos como a luz do sol e as chuvas, bem como permeiam a oferta de agroenergia e produtos de base florestal. Porém continuam vigendo as principais regras desse jogo mundial: o mercado, a inovação, os ganhos de produtividade por unidade de área cultivada e as logísticas operacionais eficientes. Não há como discutir o futuro da agricultura brasileira sem passar minimamente por esses quatro fatores estratégicos e contidos igualmente numa perspectiva de renda anual suficiente para os empreendedores rurais, com suas singularidades econômicas regionais num país com a dimensão continental como o Brasil.
A visão fomentista da agricultura é quase uma armadilha numa perspectiva de cenários, à medida que foca as safras abundantes, o que é muito bom, mas se esquece de planejar solidariamente o futuro da economia agropecuária, que transcende o mercado interno e deve consolidar posições mais vantajosas nos mercados externos num mundo que a competição por preços, qualidade e regularidade de oferta se mostra acirrada. Não se trata de abordar somente a competência do Brasil em produzir e exportar, entretanto, ao reduzir também drasticamente os gargalos entre a porteira da fazenda e a mesa do consumidor. E esse discurso é velho nessa República com virtudes e vícios históricos.
Nunca será demais repetir que os avanços da produção agrícola brasileira, segundo a Embrapa, foram resultantes de 68% de adoção de tecnologias, 22% devidos à qualidade da mão de obra e apenas 10% com relação ao fator terra. Em Minas Gerais, que segue a mesma lógica brasileira, comparando-se a safra de 2000 com a de 2013 houve um crescimento de 86,1% na produção agrícola e apenas 20% de expansão do fator terra. Portanto, a preservação da cobertura vegetal e por decorrência uma valiosa contribuição à sustentabilidade da fauna e flora. Além disso, o potencial de coleta de chuvas, em nível de campo e dentro da porteira da fazenda, é de 32,6 milhões de hectares e se ocorrer a adoção de boas práticas conservacionistas. Os empreendedores rurais precisam receber por serviços ambientais prestados.
A necessidade crescente do relacionamento compartilhado dos produtores com as tecnologias é um fato irreversível e faz parte da gestão dos estabelecimentos rurais, que somam 551.617 no Estado. Mas tem um ângulo muito importante nesse complexo processo de mudanças socioeconômicas e ambientais, ou seja, como eles “percebem” as inovações, suas oportunidades de negócios e limitações. Não deixa de ser uma espécie de adequação da ciência e tecnologia. Receita pronta não funciona e pode até queimar o bolo.
O que se presume também indispensável nos negócios agropecuários é um olho no presente e acesso aos cenários futuros, que são possibilidades, perspectivas, oportunidades e não cálculos matemáticos. Um grande desafio é quando há um atraso substantivo em segmentos da agricultura e do agronegócio e ele exige muito tempo para chegar onde outros países mais avançados já se encontram num estágio mais adiantado. uma luta programada contra o relógio, que não para. Planejar a agricultura brasileira, além das safras agrícolas, continua sendo uma proposta ainda não discutida à altura e ousadamente viabilizada.
E tem uma outra questão de fundo: por onde começar nessa longa caminhada e apesar dos avanços obtidos até agora? Noutro ângulo convergente, que o crédito rural oportuno, suficiente e indispensável seja também um estímulo à inovação e não apenas uma operação bancária rotineira e sem assistência técnica eficiente. Registre-se que o Brasil é líder mundial no recolhimento de embalagens primárias de agrotóxicos, com 94%, seguindo-se a Alemanha, Canadá, Japão, França e em último lugar os Estados Unidos. Sem comentários.
Benjamim Salles Duarte
Engenheiro agrônomo
Jornal Diário do Comércio