A confirmação da abertura do mercado chinês para a produção láctea do Brasil, anunciada pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), foi avaliada pelo setor como um importante passo para o desenvolvimento da cadeia produtora nacional. Porém, é necessário que antigos gargalos sejam superados para que o produto brasileiro chegue ao mercado internacional com preços competitivos.
Em Minas Gerais, segundo o Silemg (Sindicato da Indústria de Laticínio do Estado de Minas Gerais), existem 25 indústrias habilitadas para exportações gerais de produtos lácteos e poderão fornecer produtos para os chineses.
De acordo com o Mapa, as exportações de lácteos para a China representarão incremento de pelo menos US$ 45 milhões ao ano nos embarques do agronegócio brasileiro. A negociação para a abertura do mercado foi iniciada em 1996. A partir de agora, agroidústrias brasileiras interessadas em vender os produtos para o país asiático já podem solicitar a habilitação.
No ano passado, a China importou US$ 6,4 bilhões de lácteos, o que corresponde a 1,8 milhão de toneladas, representando 14% de todas as importações do produto no mundo. As importações mundiais de lácteos somaram 12,5 milhões de toneladas em 2014, sendo que o Brasil participou com apenas 0,7% ou 83,7 mil toneladas destinadas ao mercado mundial.
Para o presidente da Câmara Setorial de Leite do Mapa, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e diretor da FAEMG, Rodrigo Alvim, a abertura do mercado chinês é um avanço importante para o País e vem atender a um dos principais pilares do Projeto de Melhoria da Competitividade do Setor Lácteo Brasileiro, a ser desenvolvido pelo Mapa, que é a necessidade de expandir o mercado de atuação.
Gargalos – “A abertura de novos mercados é fundamental, mas precisamos resolver gargalos antes de ampliar a produção. É necessário que se invista em melhorias da qualidade, produtividade e gestão para que o produto chegue ao mercado externo com preços competitivos frente aos demais países produtores. Outro desafio é ampliar o volume de sólidos no leite, já que exportaremos leite em pó, queijos e leite condensando. Enquanto no Brasil são gastos em média 8,5 litros para produzir um quilo de leite, na Nova Zelândia são necessários apenas 7,5 litros, o que torna o produto brasileiro mais caro”, explica.
“O mercado é extremamente promissor, mas precisamos saber se a população vai beber leite, porque eles preferem chá. Teremos que introduzir isso na cultura milenar deles, o que pode ser feito com a maior participação em feiras onde os consumidores possam degustar os produtos lácteos”.
Custos de produção na cadeia leiteira são desafio
Para o diretor-executivo do Silemg (Sindicato da Indústria de Laticínio do Estado de Minas Gerais), Celso Costa Moreira, a abertura do mercado da China proporcionará importantes avanços para a cadeia produtora mineira. O Estado conta hoje com 25 empresas habilitadas a exportarem, as mesmas são consideradas aptas a buscarem autorização para ingressar no mercado chinês.
“O trabalho desenvolvido pela ministra Kátia Abreu foi muito positivo e importante para segmento. Se quisermos crescer dentro da cadeia do leite temos que alçar voos mais distantes, ocupando posição de vendas em mercados internacionais. Esse é um dos passos necessários, mas ainda temos desafios como o aumento da produtividade, melhorias genéticas, de manejo e gestão, que precisam ser desenvolvidos junto com a abertura de novos mercados”, avalia.
Um dos principais desafios a ser superado são os elevados custos de produção da cadeia leiteira, o que torna o produto final menos competitivo que os demais. “O preço do leite em pó no exterior é muito baixo em relação ao praticado no Brasil. Mesmo com câmbio favorável ainda assim não temos competitividade para atuar no mercado internacional. Para se ter ideia, o preço pago pelo produto gira em torno de US$ 2 mil a tonelada, para termos capacidade de exportar seria necessário que a tonelada fosse comercializada a US$ 4 mil, valor que cobriria os custos operacionais e geraria margem para a indústria”, ressalta.
Também são desafios o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa) e a burocracia dos trâmites dentro do Ministério da Agricultura para que as empresas obtenham o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) para exportação.
“Uma empresa que esteja bem ajustada e organizada não leva menos de dois anos para obter o SIF exportação. Isso porque a infraestrutura do ministério, devido a cortes no orçamento ao longo dos últimos anos, é pequena para operar o sistema. Isso significa que as indústrias levam muito tempo para terem as plantas aprovadas, aumentando custos e reduzindo a competitividade nos mercados interno e externo”, diz Moreira.
Fonte: Diário do Comécio