Pecuaristas leiteiros estão comemorando a boa fase. O preço do litro de leite pago ao produtor chegou a cerca de R$ 1 no estado. A cotação permite um certo alento para a atividade. Paralelamente, aumentam os investimentos em produtividade. Com alimentação adequada para as vacas e propriedades mais equipadas, é possível evitar as quedas de renda tão comuns na entressafra, quando o pasto seca e as perdas são frequentes. Fábio Rebello Filho é exemplo de produtor que mesmo no Norte do estado tem conseguido manter a produtividade em alta. Ele já produz cerca de 300 litros diários com a força de 22 matrizes das raças holandesa e girolando em lactação. Mas sua meta é chegar a 700 litros, com 40 vacas. Melhoria de genética e de manejo deverão ajudar.
Suspiro na pecuária
O produtor rural e médico-veterinário Alexandre Rezende não se lembra quando sua família começou a trabalhar com a pecuária leiteira. Ele sabe que aprendeu a técnica com o pai, que aprendeu com o avô, que herdou do bisavô. Depois de formar-se na universidade, Alexandre assumiu a tradição da família e a propriedade em Igarapé, na Região Central de Minas. Com o uso de técnicas avançadas de manejo, ele pretende no prazo de dois anos dobrar sua produção de leite, que hoje gira em torno de 200 litros/dia. O bom momento do alimento no mercado, cujo preço para o produtor rural atingiu R$ 1 o litro, tem animado pequenos e grandes, velhos e novos na atividade. Pecuaristas de Minas estão investindo na infraestrutura, na dieta do gado e em técnicas de manejo para garantir a sustentabilidade do negócio, que coloca o estado no topo do ranking brasileiro. Por ano são 8,3 bilhões de litros de leite, ou 25% do volume nacional.
O produtor de leite não é apenas um especialista em pecuária, tradicionalmente é também um conhecedor dos solavancos do mercado, que se caracteriza por fortes altos e baixos. O vaivém costuma derrubar os preços do leite, apertando bastante o custo da produção. Para isso, diversos programas ligados ao poder público, entidades de classe e universidades têm levado mais conhecimento ao campo, garantindo boa produção, seja na seca ou na safra. A intenção é que a atividade seja mais resistente à instabilidade dos preços. Os resultados esperados passam pelo aumento da produtividade e da qualidade. “Para permanecer na pecuária de leite é preciso em primeiro lugar gostar muito, e depois usar mais tecnologia”, diz Rezende.
Willian Dornelas é produtor em Senhora dos Remédios, na Região Central do estado. A tecnologia, aliada ao bom momento do leite, renova a esperança do produtor que há 10 anos entrou para a atividade. Ele conta que sua pequena propriedade foi uma herança de um avô. Ele decidiu tocar o negócio, que há quatro anos ganhou novos ares. Isso porque ele entrou para o programa Balde Cheio, da FAEMG, em parceria com associações e prefeituras. O programa, que leva conhecimento à atividade leiteira revolucionou a produção. O negócio deslanchou e dessa vez foi o pai, José Guido Dornelas, que decidiu acompanhar a atividade do filho, trocando a construção civil pela fazenda.
Em quatro anos a produtividade do sítio cresceu 300%. “Hoje conseguimos tirar cerca de 200 litros de leite por dia e a meta é nos próximos quatro anos chegar a 300 litros”, calcula José Guido, que conta com o apoio do técnico veterinário Daniel Fonseca.
Segundo José Guido, suas vacas, que antes produziam de 12 a 13 litros diariamente, com técnicas corretas de alimentação e manejo passaram a produzir 20 litros/dia. Outro dado importante é que no período da seca a produtividade, que antes chegava a despencar, 35% hoje se mantém no mesmo nível do restante do ano. Willian diz que com a boa fase do leite – em sua região o preço pago ao produtor chega a R$ 1 por litro –, eles têm conseguido cobrir os custos. “Há três anos investimos perto de R$ 60 mil na propriedade e agora estamos começando a reaver esse valor. ”
MELHORAMENTO
Clésio Melo é extensionista da Emater em Coroaci, no Leste de Minas. A pequena cidade, de 10 mil habitantes, conta com cerca de 50 pequenos produtores, que juntos somam volume de 30 mil litros de leite por dia. “Dentro do programa Minas Leite divulgamos tecnologia no campo, o que já trouxe resultados positivos tanto no manejo quanto no melhoramento genético do gado”, diz.
O acesso a novas técnicas garante melhores resultados, seja para pequenos, médios ou grandes produtores. Pecuarista de grande porte no Norte de Minas, Ailton Barral Santiago também acredita nos bons resultados. Em sua propriedade, na região de Alto Belo (município de Bocaiúva), ele produz em torno de 1,6 mil litros por dia, sendo fornecedor da Associação dos Produtores de Leite do Norte de Minas (Asproleite). Ele conta com 125 vacas mestiças. Para superar as dificuldades impostas pela seca, Ailton recorre a alimentação suplementar, dispondo de capineira irrigada. “O preço do leite está bom. Mas, acredito que ainda há espaço para novas altas, o que ajudaria a cobrir os custos que estão crescendo.”
Salvação na ordenha
No Norte de Minas, em grande parte do ano, diante da seca, o leite é uma espécie de “salvação da lavoura”, sendo a única fonte de renda que garante a manutenção de dezenas de propriedades rurais. Por isso, a melhoria do preço do produto trouxe um novo alento para os produtores, abrindo novos horizontes para a atividade. “No ano passado, os produtores praticamente não tiveram renda. Neste ano, houve uma melhoria da rentabilidade e a produção de leite voltou a ser atrativa, oferecendo condições para a convivência com a seca”, afirma o produtor Fábio Lafetá Rebello Filho, de 46 anos, que é também presidente da Coopagro (Cooperativa Agropecuária Regional de Montes Claros).
Segundo estimativas do próprio Rebello Filho, o Norte de Minas produz hoje em torno de 350 mil litros por dia, fornecendo o produto para cerca de 10 laticínios. A Coopagro recebe 15 mil litros por dia, fornecidos por 120 produtores. O produto é repassado para a Itambé. Outra empresa que adquire a produção norte-mineira é a Nestlé, que tem uma fábrica de leite condensado em Montes Claros. O preço pago ao produtor na região varia de R$ 0,99 a R$ 1,07, o litro.
Fábio Rebello Filho se dedica a produção leiteira na Fazenda Morro do São João, de sua propriedade, no município de Capitão Enéas, onde produz cerca de 300 litros diários e dispõe, atualmente, de 22 matrizes das raças Holandesa e Girolando em lactação. “Mas, a minha meta é chegar a 700 litros de leite com 40 vacas em lactação. Para isso, vou investir na qualidade genética do rebanho e na melhoria do sistema de alimentação”, afirma o produtor, que foi campeão do concurso de gado leiteiro da Exposição Agropecuária Regional de Montes Claros (Expomontes/edição 2012).
Ele conta que herdou “o gosto pela atividade” do pai, Fábio Lafetá Rebello, um dos pioneiros da produção de leite no Norte de Minas e ex-presidente da Coopagro e da Sociedade Rural de Montes Claros. De acordo com o Rebello Filho, devido ao baixo índice pluviométrico no último período chuvoso (novembro a abril), houve uma perda de 70% na produção de milho, sorgo e cana – as matérias-primas usadas para a silagem que serve para a manutenção do gado leiteiro no período crítico da seca – que vai de maio a outubro. Mesmo com o clima adverso, o presidente da Coopagro destaca que o Norte de Minas tem potencial para a pecuária leiteira. “A região conta com uma boa topografia (terreno plano), solo fértil e boa insolação.”
“Para produzir bem, o produtor deve investir em irrigação de capineiras e garantir uma alimentação adequada para as vacas”, observa o produtor. Ele mantém seu rebanho no sistema semi-intensivo: “Numa parte do ano, em torno de seis meses, durante o período das chuvas, o gado fica no pasto. Durante a seca, as vacas são mantidas em confinamento e são alimentadas com a silagem de sorgo e cana, produzida na própria fazenda”, explica o Rebello Filho. Na Fazenda Morro do São João é usado o sistema de ordenha mecânica, que envolve dois funcionários. “Hoje a mão de obra no campo está escassa. Por isso, os produtores de leite – mesmo os pequenos – se viram obrigados a recorrer à ordenha mecânica. A máquina é de fácil manuseio”, afirma o presidente da Cooperativa de Montes Claros.
Programas que ajudam
A primeira vaca de leite que chegou ao Brasil foi ainda nos idos do século 16. Desde então, a antiga atividade permanece entre as de maior importância da agropecuária no país e em Minas, gerando renda para milhares de estabelecimentos de pequeno a grande porte. O estado produz 8,3 bilhões de litros de leite por ano, o maior volume do país. São mais de 200 mil propriedades que sobrevivem total ou parcialmente da atividade, responsável por segurar no campo, só em Minas, cerca de 400 mil produtores de leite.
Coordenador do programa Balde Cheio, da FAEMG, Wallisson Lara Fonseca conta que em média as propriedades assistidas pela iniciativa têm 100% de crescimento na produtividade no período de 12 meses. Ele explica que os investimentos são feitos de acordo com a capacidade do produtor e que a assistência técnica é oferecida por meio de convênios, gratuitamente. “O objetivo principal é resgatar a dignidade do produtor que sobrevive da atividade.” Desde 2007, 2 mil produtores foram atendidos em 260 municípios, de norte a sul do estado.
O Programa Minas Leite, da Seapa (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais), foi lançado para melhorar a qualidade do produto e a capacidade de gestão das propriedades leiteiras mineiras, sendo voltado para pecuaristas com produção de até 200 litros/dia. As ações do programa são executadas pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), com utilização de recursos encontrados em cada propriedade. Cada fazenda assistida tem o compromisso de funcionar como multiplicadora das boas práticas para outras 10. No programa existe também a qualificação gerencial e técnica dos sistemas produtivos do leite.
Segundo a Seapa, uma das práticas do Minas Leite, o pastejo intensivo rotacionado, tem contribuído para que mais de 200 propriedades mineiras inscritas na Emater-MG alcancem a coleta de 8,2 litros por vaca/dia, na comparação com a média de 7,5 litros por vaca/dia obtidos menos de um ano atrás.
Para participar do Minas Leite, o produtor deve encaminhar solicitação, por meio de associações comunitárias, aos escritórios da Emater-MG.
Fonte: Estado de Minas