Os centímetros que sobram na trena esticada pelo técnico agrícola Jean Felipe, 25, não deixam dúvida. Em um cafezal de Elói Mendes, cidade no sul de Minas, Felipe mostra um pé de café, com dois anos de idade e 80 cm, mas que deveria ter alcançado quase o dobro da altura (1,30 m) se as chuvas tivessem sido fartas ao longo deste ano em Minas Gerais.
A estiagem afetou a cafeicultura no Estado que lidera a produção do grão no país. Foram 27,66 milhões de sacas na safra passada, o equivalente a 56% da produção nacional. Minas orgulha-se de marca de que um em cada cinco cafezinhos consumidos no mundo saíram de suas lavouras.
A previsão até o momento é que a perda na produção desta safra seja de aproximadamente 30%, segundo Breno Mesquita, diretor da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e também presidente das Comissões de Cafeicultura da federação e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil).
Além da quantidade aquém, o setor também espera um nível bem menor em termos de qualidade do café.
É o pior desempenho de uma safra que se tem notícia, diz o diretor. “No caso do café, mesmo os produtores mais antigos dizem que é uma situação inédita, que nunca viram nessa intensidade.”
Como a evolução dos cafezais ainda é incerta, segundo Mesquita, o setor tem dificuldades inclusive de mensurar os impactos deste ano na previsão de perdas para 2015.
No cafezal visitado pela reportagem na última semana, em Elói Mendes, é nítido até para uma pessoa leiga que as plantas estão mirradas, com a folhagem bastante seca.
A florada do café, que acontece em setembro e outubro, depende de uma boa chuva para fazer com que a flor permaneça e dê o fruto –o grão de café. “Se não chove, a flor seca e aborta o fruto”. Naquela lavoura, da Fazenda Santa Clara, Felipe estima que a produção será de no máximo 30% do esperado.
O cafezal pertence a um dos 1.800 produtores rurais ligados à Coopama, cooperativa da região de Machado (MG). Segundo o diretor administrativo da entidade, Fernando Caixeta Vieira, a estimativa é de queda de 20% na produção em decorrência da falta de chuvas que persiste desde janeiro.
Como a colheita foi concluída em sua maior parte, o atual momento do setor é de oscilação das cotações do café, o que gera insegurança ao produtor. A orientação da Faemg é de cautela. “Sem uma política de preços perene para o setor, cabe ao cafeicultor gerir agora os preços pagos pela saca, equilibrando as contas do último ano e as possibilidades que os próximos meses e 2015 poderão trazer”, diz Mesquita.