Em artigo publicado no Jornal Estado de Minas o presidente do SISTEMA FAEMG, Roberto Simões, afirma que estamos passando por uma revolução no campo, orientada pela sustentabilidade.
Revolução no campo
*Roberto Simões – presidente do SISTEMA FAEMG
Você pode até não saber, mas há, neste exato momento, uma pequena revolução silenciosa em marcha no agronegócio mineiro. Uma revolução boa para todos (produtores, meio ambiente e consumidores), que vai, aos poucos, levando novas técnicas de produtividade e conhecimento para propriedades rurais, principalmente as de pequeno e médio portes, responsáveis pela maior parte do abastecimento de alimentos no estado. Uma revolução baseada na sustentabilidade – que, por sua vez, está ancorada em um tripé: econômico, ambiental, e social.
Tome-se como exemplo dessa nova revolução a pecuária leiteira (é bom lembrar que Minas é o maior produtor nacional de leite e responde por 28% da produção nacional, com 8,7 bilhões de litros anuais). O carro-chefe dos novos tempos, neste segmento, é o programa Balde Cheio, com tecnologia da Embrapa e implantado pela Faemg e parceiros (sindicatos, prefeituras, etc.) no estado há seis anos.
A filosofia do programa, que já atende a 2 mil produtores em 281 municípios (em 2007, eram apenas 17 municípios) se resume em duas palavras: extensão rural. Estamos formando técnicos qualificados e, através deles, levando aos produtores rurais conhecimento e medidas adequadas à realidade de cada um para aumentar a produtividade.
Como principais exemplos dessas medidas, podemos citar a integração entre pastos e florestas, a rotação dos pastos em manejo intensivo e a recuperação de pastos degradados. Na prática, isso significa que o produtor não precisa aumentar a área de pastagem para produzir mais leite. Hoje, ele produz mais em áreas menores. Ganha mais dinheiro com menor custo por litro produzido. Com isso, pode preservar florestas, manter seus empregados e assegurar a viabilidade econômica de sua atividade. Eis aí o tripé da sustentabilidade.
Os resultados têm sido impressionantes. Uma propriedade em Carmo do Cajuru produzia 200 litrosde leite/dia numa área própria de 4 hectares (ha), mais 13 ha arrendados. Com o programa, implantado ali em 2011, produz hoje 350 litros/dia em seus 4 ha. O dono não precisa mais arrendar terras. Ofluxo de caixa pulou de R$ 19 mil para R$ 57 mil anuais. Em Conceição do Rio Verde, uma propriedade de 20 ha produzia 150 litros/dia até a chegada do Balde Cheio em 2010. Hoje, produz 250 litros e o fluxo de caixa saiu de um resultado negativo de R$ 11,2 mil para R$ 14 mil positivos – uma virada e tanto.
Em Vermelho Novo, uma propriedade de meio ha (mais quatro arrendados) produzia 59 litros/dia. Hoje, saltou para 148 litros e o fluxo avançou de R$ 5,5 mil para R$ 29 mil/anuais em dois ha. Em Buritis, mais um exemplo emblemático: o produtor reduziu sua área de 60 hectares para 10, ao passo que a produção pulou de 134 litros/dia para 509 – e a renda, de R$ 700 mensais para R$ 8 mil. Em alguns casos, o ganho de produtividade chegou a 1.000%. Esta é a revolução verdadeira da sustentabilidade: somos capazes de produzir mais alimentos em área menor, o que reduz a pressão ambiental e aumenta os ganhos.
Estamos nos preparando, agora, para chegar à pecuária de corte. Vamos, neste ano, fazer um intenso diagnóstico da atividade. A carne bovina precisa ser de qualidade, saudável, resultante de processos que respeitem o meio ambiente. É o que pede a nova sociedade do século 21. É aí que estão as janelas de oportunidade para a venda do produto para grandes empresas e atacadistas. Novamente, a assistência técnica será fundamental. Precisamos de bons insumos e sementes melhoradas para pasto. O produtor precisa estar permanentemente atualizado. O trabalho é imenso. Mas o desafio, tal como a sustentabilidade, é nosso aliado.