A queda da terceira para a sexta posição de Minas Gerais na “3ª Edição do Ranking de Gestão e Competitividade dos estados Brasileiros (2013/14)”, em relação a 2011, divulgado no último dia 26, está mais relacionada à conjuntura econômica global desfavorável às atividades do Estado do que a problemas de administração do poder público estadual. Também contribuíram para esse recuo bons desempenhos de outros estados, a exemplo do Paraná, que subiu duas posições em virtude dos resultados do agronegócio.
“É essa a nossa avaliação”, indica a gerente executiva do CLP (Centro de Liderança Pública), Luana Tavares. Segundo ela, nesse ranking, produzido pela CLP em parceria com a Economist Intelligence Unit (EIU), braço de inteligência da revista britânica “The Economist”, foi possível perceber que enquanto o Paraná foi beneficiado pela agricultura, Minas, que tem uma atividade agrícola muito atrelada à produção do café, que é um commodity, “foi prejudicado no mercado externo”. Da mesma maneira, pesou negativamente a queda das exportações do minério de ferro, outro grande setor da economia mineira.
O ambiente econômico, que é um dos oito eixos que compõem o ranking, foi o pior resultado de Minas. Ficou na 11ª colocação, com 43,8 pontos, pouco acima da média nacional, de 42,9 pontos, contribuindo para a sua queda na posição geral. Em 2011, Minas alcançou 65,9 pontos, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Na última edição, caiu para 60,2 pontos, bem acima da média nacional (43) de um total de 100. Mas abaixo dos dois estados do Sudeste e dos três estados do Sul.
Outros sete eixos integram o ranking: o ambiente político; regime de impostos e regulação; política em relação ao investimento estrangeiro; recursos humanos; infraestrutura, inovação; e sustentabilidade. Desses, Minas alcançou pontuação baixa, de 37,5%, em relação a infraestrutura, ocupando a décima colocação. Segundo Luana, embora nesse segmento Minas não tenha mudado de posição em relação à primeira edição, “aumentou sua pontuação em 12,5%”.
Critérios
Entre os critérios avaliados em relação a infraestrutura destacam-se a qualidade das vias e aspectos ligados à telecomunicações, principalmente à internet. No eixo de ambiente político, em que Minas ocupa o quarto lugar, são avaliados aspectos como corrupção, sensação de segurança, burocracia e estabilidade política. “Como nas eleições deste ano não há possibilidade de manutenção do governo atual, essa circunstância acaba desfavorecendo o Estado no ranking”, explica.
Para Luana, o melhor resultado de Minas, que manteve pela terceira vez consecutiva a pontuação máxima no eixo de atração de investimentos estrangeiros, reflete “o bom trabalho” do governo mineiro de promover bem o Estado junto aos investidores. “Mas é uma posição decorrente do mercado e não específica de gestão”, pontua a economista, ressaltando, no entanto, que essa institucionalização dessas políticas sinaliza que este é um processo estável.
Em relação ao critério de sustentabilidade, em que Minas se mantém na oitava posição, Luana explicou que entre os critérios está a legislação relacionada à sustentabilidade e às mudanças climáticas, e não propriamente ao desenvolvimento sustentável, atrelado à produção. Por esta razão, ela entende como natural colocações melhores para o Acre e Amazonas, além de destaques como São Paulo e Paraná.
Faltam inversões federais no Estado, diz FAEMG
A falta de investimentos do governo federal em infraestrutura, nos últimos anos, em Minas Gerais é apontada por entidades empresariais como um dos principais motivos para a baixa pontuação do Estado no ranking de gestão e competitividade entre os 26 estados e Distrito Federal, divulgado no último dia 26 de julho.
“Com essa guerra do governo federal com Minas, não tem nada vindo para cá há muito tempo”, aponta o presidente do SISTEMA FAEMG, Roberto Simões, referindo-se à décima posição do Estado no eixo de infraestrutura, com 37,5 pontos, pouco acima da média nacional, de 36,6 pontos, e atrás de estados como Paraíba e Sergipe.
Em sua avaliação, o eixo de infraestrutura está necessariamente associado ao do ambiente econômico, o que justificaria o baixo resultado do Estado também nesse critério de avaliação. E muito embora ele considere que Minas não esteja “recebendo recursos e nem obras”, ele entende que, “no estoque”, o Estado ainda figura entre os melhores, “com a maior malha viária do Brasil”.
Quanto à baixíssima pontuação do Estado em relação ao regime de impostos e regulação, ficando com 25 pontos frente à média nacional de 22,2, Simões entende que pode ser reflexo de uma política mais austera e segura. “Nunca entramos em guerra fiscal”, justifica.
Apesar de Minas apresentar resultados mais baixos nos eixos de infraestrutura, impostos e regulação, sustentabilidade e ambiente econômico, Simões enfatiza que “no nosso setor não há razão para queda”. Segundo ele, embora não haja expectativa de que se repita o resultado de 2012, de produção recorde, e o bom desempenho de 2013, a perspectiva para o agronegócio em 2014 é de “estabilização”, apresentando “como problema apenas a questão de seca”. “Nosso PIB será positivo e vai superar o resultado nacional”, projeta, referindo-se a um crescimento do país estimado em menos de 1% este ano.
Indústria
Para a economista da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) Daniela de Britto Pereira, os resultados apresentados no ranking de competitividade reflete bem a realidade do Estado. Ela observa que o maior impacto foi o ambiente econômico.
Um dos principais fatores para esse menor desempenho de Minas, que tem crescido abaixo da média nacional, indica, é a conjuntura internacional, que desfavorece os negócios de Minas nos segmentos de mineração e cafeicultura.
A título de exemplo, ela cita a Europa, ainda não recuperada da crise de 2008, que responde por 19% das exportações do Estado. As dificuldades na Argentina, grande compradora de veículos, também pesou negativamente.
No entanto, ela ressalta ainda um problema de ordem estrutural nesse ambiente econômico que é a apuração de renda média per capta muito baixa em regiões como o Jequitinhonha e Nordeste do Estado. “As diferenças regionais impactaram significativamente”, indica Daniela.