A estiagem atípica que comprometeu parte da produção de milho e a maior concentração dos trabalhos na colheita da soja vem pressionando para a sustentação dos preços do milho em Minas Gerais. De acordo com dados da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), os preços do milho apresentaram alta na semana de até 14,29% entre os dias 18 e 25 de fevereiro, com a saca de 60 quilos sendo negociada entre R$ 25 e R$ 32, dependendo da região produtora. Estimativas iniciais apontam para uma redução entre 30% e 40% na produção estadual, que antes do período de estiagem estava estimada em 6 milhões de toneladas.
O maior valor praticado no Estado no período, R$ 32, foi registrado na região Sul, e representou avanço de 14,29% sobre os preços praticados na semana anterior. A menor cotação, R$ 25, foi praticada no Noroeste de Minas e vem se mantendo estável. No Triângulo Mineiro a saca de milho está avaliada, preço máximo, em R$ 27, variação positiva de 5,88% frente a semana anterior. Na região do Alto Paranaíba, o mesmo volume foi cotado a R$ 28, incremento de 7,69%.
No indicador de preços do milho na Esalq/BM&FBovespa a saca de 60 quilos do produto foi negociada no dia 25 de fevereiro a R$ 28,94, alta de 8,07% no acumulado do mês.
Outro fator que agrava a situação do milho e contribui para a sustentação dos preços é a incerteza em relação à implantação da segunda safra. O receio dos produtores é devido ao atraso registrado no plantio da soja após o início tardio das chuvas. Com isso, a janela de plantio para a segunda safra ficou menor e o clima não favorável do período, que normalmente é mais seco, pode comprometer a semeadura da safrinha.
Cautela
“O produtor está cauteloso em relação à segunda safra, por isso, os investimentos estão menores. Não existem garantias para o período, apesar do uso de irrigação na safrinha, não é possível prever se os níveis dos mananciais serão suficientes para garantir o volume necessário de água. Muitos produtores, com receio do clima, vão apostar em culturas mais resistentes ao período de estiagem, como o sorgo por exemplo, que substitui bem o milho”, avalia o engenheiro agrônomo e extensionista agropecuário da Emater-MG – escritório local de Paracatu, no Noroeste do Estado – Mauro Ianhez.
Em Paracatu, quarto maior produtor de milho do Estado, a área destinada ao cultivo do grão gira em torno de 35 mil hectares e a produção média anual é de 230,4 mil toneladas. Devido ao longo período de seca, registrado em janeiro de 2014, a expectativa inicial é de quebra entre 15% e 20% nas lavouras.
“As estimativas iniciais apontam para perdas em decorrência da seca, não registramos problemas com pragas e doenças. A falta de água fez com que as espigas ficassem menores e a granação irregular, o que afeta a produtividade. Em algumas áreas, onde a situação hídrica foi mais crítica, as espigas não se desenvolveram, o que gerou perda total não sendo possível utilizar nem mesmo como silagem”, diz.
Barraginhas
Ainda segundo Ianhez, para que o produtor fique menos suscetível às variações climáticas são necessários investimentos para armazenar água no campo, o que pode ser feito com a construção de barraginhas e curvas de nível.
“Preciso planejamento por parte das esferas governamentais e do produtor para represar a água das chuvas. A conservação é importante para se ter segurança no campo, é uma questão estratégica que o produtor tem que pensar e tem que existir política publica que incentive”, avalia.
Segundo ele, a criação de linhas de crédito que estimulem a preservação ambiental, os cuidados com o solo e com a água também podem trazer resultados muito favoráveis para o campo e o meio rural. “Iniciativas como a construção de barraguinhas e curvas de nível, por exemplo, já mostram resultados em um ano, as áreas ficam mais úmidas, favorecendo o desenvolvimento das culturas e da pastagem”, observa.
Em Perdizes, no Alto Paranaíba, a produção média anual de milho é em torno de 234 milhões de toneladas, volume que este ano deve recuar em função dos efeitos da seca. De acordo com o extensionista agropecuário da Emater-MG – escritório local de Perdizes – Roberto Carlos Brandão, ainda não é possível calcular qual o índice de perdas, mas produtividade vai ficar menor na safra atual. “Mensurar as perdas só será possível com a colheita da safra, mas a estiagem em janeiro, com certeza, afetou negativamente a produção”, analisa.
Fonte: Diário do Comércio