Os preços do café arábica nos mercados interno e externo, que avançaram fortemente em fevereiro (cerca de 26,5% com a saca de 60 quilos avaliada em média a R$ 366,3), voltaram a cair em março. A queda, que já está em torno de 12% no acumulado do mês, está atrelada, segundo produtores, a informações irreais de que a safra brasileira não sofreu impactos com a estiagem do primeiro bimestre, o que aumentaria a oferta de café no mercado. Diante do fato, representantes do setor estão elaborando um levantamento da produção, que irá comprovar cientificamente as perdas na safra atual. A ideia é balizar o mercado de forma mais consistente.
A queda nos preços pagos pelo café ocorreu logo após a divulgação de dados que apontam para uma estabilidade na produção da safra 2014, feitas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e empresas multinacionais. Os dados não levaram em conta as perdas promovidas pela estiagem atípica e pelas altas temperaturas.
Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), enquanto no dia 5 de março a saca de 60 quilos de café era negociada a R$ 447,63, no fechamento do dia 25 de março o valor já havia recuado para R$ 393,57, queda de 12%. A retração foi iniciada em torno do dia 14 de março, quando a saca do produto era negociada a R$ 476,82, período em que o levantamento da safra de café foi divulgado pelo IBGE.
De acordo com o presidente executivo do CNC (Conselho Nacional do Café), Silas Brasileiro, as perdas na safra 2014 são significativas e os impactos se estenderão até 2015. Com os resultados divergentes entre as estimativas divulgadas, o CNC encomendou um levantamento que irá comprovar, cientificamente, o índice de perdas. Os dados devem ser divulgados em abril.
“O mercado do café está muito especulativo e, sem dúvida, qualquer número que seja anunciado terá reflexo. No caso do IBGE, não houve conivência em divulgar os números atualizados, já que os dados são do início de fevereiro. Não tiveram cuidado em fazer o levantamento, que é elaborado em uma sala tendo como base imagens. Isso é realmente muito diferente do que é visto em campo. O mercado só terá um norte quando saírem os números do setor, comprovando os reflexos negativos da seca até mesmo na safra 2015”, disse Brasileiro.
Descaso
Para o diretor-presidente da Cocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas Ltd), Francisco Miranda de Figueiredo Filho, a falta de políticas e de preocupação do governo com a agricultura brasileira faz com que os produtores fiquem reféns das especulações e do mercado, deixando os preços oscilarem de acordo com a oferta e a demanda, sem garantir um preço mínimo.
“Após a colheita, esperamos que o mercado fique mais estável, já que as perdas na produção serão quantificadas. muito triste conseguir preço em cima de uma tragédia como a vivida atualmente pela cafeicultura. Porém, em um país que não se tem uma política agrícola, passam a dominar as leis de mercado. O levantamento do IBGE foi injusto com o setor, já que os dados são de um período antes da seca e foram divulgados após a estiagem, impactando negativamente na cotação do produto”, disse Figueiredo.
Segundo o gerente comercial de café da Cooparaiso (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso), no Sul de Minas, Gilson Aloise de Souza, a tendência é que os preços retomem a alta com o início da colheita.
“Com o início da colheita, serão confirmadas perdas já estimadas pelas cooperativas e entidades do setor. Na região, a perspectiva inicial é de uma queda de 15% no volume, com tendência de superar este índice. O impacto da estiagem também ocorrerá na safra 2015, que já seria baixa, mas com a falta de chuva, as altas temperaturas e tratos culturais abaixo do recomendado a produção deverá ser muito menor”.
Broca-do-café: monitoramento é essencial
Estudos realizados por pesquisadores da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais) apontam o monitoramento do cafeeiro como alternativa para auxiliar o controle químico e biológico da broca-do-café. Essa praga preocupa os cafeicultores pela possibilidade de perdas qualitativas e quantitativas, já que a broca ataca as sementes dos frutos.
O monitoramento é uma ferramenta que ajuda o cafeicultor a identificar as áreas infestadas pela broca para o uso racional de inseticida. As pesquisas mostram que o controle químico não é necessário em toda a lavoura porque o ataque da praga é desuniforme. “Em geral, somente 35% do total da lavoura requer controle químico. As lavouras novas, nas primeiras safras, não apresentam infestação da broca por isso não requerem controle químico”, explica o pesquisador da Epamig, Júlio César de Souza.
O cafezal deve ser dividido em talhões, agrupamentos de plantas numerados e separados por espaços necessários para a passagem de máquinas e equipamentos. Em cada talhão devem ser escolhidos, aleatoriamente, 30 cafeeiros para o levantamento de dados.
De acordo com pesquisador, esses dados irão compor uma planilha específica para o monitoramento, que deve ser iniciado três meses após a primeira maior florada do cafeeiro. “Esse acompanhamento é imprescindível antes da aplicação dos inseticidas para evitar o uso indiscriminado desses produtos. O cafeicultor deve fazer o controle químico no talhão onde a infestação atingir mais de 3% de frutos broqueados”, alerta.
Estudos mostram que, inicialmente, a larva do inseto apenas perfura os frutos verdes, aquosos, sem colocar os ovos. “Após 55 dias, os frutos já com menores teores de umidade, o inseto termina a construção da galeria até uma das sementes nos frutos broqueados, onde depositam o ovo. Assim, o controle químico visa matar os adultos fêmeas na entrada da galeria, nos frutos broqueados verdes, para evitar que depositem ovos posteriormente nesses frutos, iniciando o primeiro ciclo do inseto na nova safra de café”, define. Segundo Júlio a broca ataca frutos em qualquer estágio de maturação, só não ataca café beneficiado.
Desde 2005, o agrônomo e cafeicultor Juliano Araújo realiza o monitoramento com planilha em seu cafezal, no município de Campos Gerais. “A minha propriedade é certificada, portanto, o uso racional de inseticida já é uma realidade. Percebemos que a adoção do monitoramento serviu para reduzirmos o gasto com esses produtos, além de alertar para técnicas de manejo e poda que nos permite conviver com a broca”, conta. O cafeicultor ressalta que monitorar é indispensável, mas a ação deve ser aliada ao controle químico, que possibilita ao cafeicultor menor risco de perda do controle desta praga.
Em Santa Rita do Sapucaí cafeicultores que adotaram a técnica da poda em esqueletamento do cafeeiro na safra zero – ano em que não se colhe nenhum café – não precisaram fazer o controle químico da broca. “Há nove anos, os cafeicultores dessa região adotaram essa técnica e a infestação da broca é praticamente zero”, afirma Júlio. O pesquisador explica que são lavouras localizadas em terreno acidentado, que não permite a pulverização mecanizada, portanto, o monitoramento é também indispensável.
A planilha específica para monitoramento de cada talhão do cafeeiro está disponível para download no site www.epamig.br, no menu de publicações.
Emergência
Neste mês, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) decretou emergência fitossanitária nos cafezais de Minas Gerais, visando impedir a infestação da lavoura pela broca, segunda praga em incidência nos cafezais arábica. A broca foi controlada no Brasil na década de 1970 pelo uso do Endosulfan, que, em 2013, teve a comercialização suspensa devido à alta toxicidade e ao potencial de danos ao meio ambiente. As informações são da Epamig.
Fonte: Diário do Comércio