Estudo desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais aponta que de 2001 a 2013 o rebanho bovino brasileiro teve crescimento contínuo, mas pouco acentuado. No período contemplado é possível constatar fases de estagnação do número de cabeças como resultado da seca ou mesmo de desvalorização do preço dos animais, revelando que o produtor precisou tomar medidas drásticas de descarte de fêmeas em função do preço em busca de equilíbrio financeiro do seu sistema de produção.
O trabalho foi desenvolvido pelo zootecnista Francisco Augusto Lara de Souza, da Subsecretaria do Agronegócio, a partir de dados do IBGE e revela que a produção brasileira de leite passou de 20,5 bilhões de litros em 2001 para 34,3 bilhões em 2013, elevação de 67,31%. Minas Gerais teve aumento de 55%, saindo de 6 bilhões de litros (o equivalente a 29,2% do total nacional) para 9,3 bilhões de litros, mas sua participação na produção nacional caiu para 27,1%.
Chama atenção o aumento ano a ano da produção de leite dos estados da região Sul do país, ao passo que na maioria dos outros estados a atividade oscilou. No período analisado surgiram novas bacias leiteiras no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A soma do volume de leite produzido por esses três estados em 2001 era inferior ao que Minas Gerais produziu naquele ano.
“Hoje a situação se inverteu e eles, juntos, superam os mineiros em cerca de 2,5 bilhões de litros, o equivalente a 17%, apesar de possuírem menos vacas ordenhadas, o que reflete eficiência e profissionalização do setor”, analisa o coordenador técnico estadual de pecuária de leite da Emater-MG, Elmer Luiz Ferreira de Almeida. Despontaram também importantes polos produtivos no Norte, com destaque para o estado de Rondônia, e no Nordeste, particularmente na Bahia, com o investimento em grandes sistemas de pastagem irrigada.
Nos 12 anos analisados, o rebanho brasileiro aumentou 20,06%, enquanto o mineiro cresceu 19,8%. No ranking nacional de bovinos de 2013, entre os principais estados destacam-se Minas Gerais, 24.201.256 de cabeças (11,4 %); Goiás, 21.580.398 (10,2%); Mato Grosso, com 28.395.205 (13,4%); Mato Grosso do Sul, 21.047.274 (9,9%) e Pará, 19.165.028 (9,1%). Em termos de vacas ordenhadas, Minas Gerais teve incremento de 31,11%, concentrando com isso 25,7% das vacas ordenhadas no país.
De 2003 a 2013 o rebanho mineiro cresceu mais no Alto Paranaíba, Triângulo e Centro Oeste, regiões próximas das plantações de grãos, especialmente de milho e soja. Nos vales do Mucuri e Rio Doce o aumento foi inexpressivo, em função do baixo emprego da tecnologia. Nas tradicionais regiões leiteiras, como Central, Sul de Minas e Triângulo, a população fêmea acima de três meses mantém-se expressiva, valorizando o rebanho de vacas destinadas à pecuária leiteira”, explica Elmer Almeida.
Grande potencial de produção – O analista de agronegócio da Faemg-Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, Wallisson Lara Fonseca, considera baixa a produtividade de leite no Brasil (1.300 litros/vaca/ano), quando comparada a outros países, como Estados Unidos (10 mil litros/vaca/ano), Alemanha (7,2 mil), Argentina (4,5 mil) e a Rússia (3,8 mil). Com 1.591 litros/vaca/ano, Minas Gerais ultrapassa a média nacional. Na primeira década dos anos 2000, não passava de 1.336,7 litros.
Por outro lado, o estudo dá sinais que o estado tem grande potencial de crescimento, pois dispõe de condições climáticas, pastagens e genética de excelente nível sendo hoje bem aproveitadas. “Não é fácil aumentar a eficiência de qualquer empresa, pois essa mudança está atrelada a questões como políticas públicas condizentes com a realidade do setor, capacitação de mão de obra, poder de compra do consumidor, entre outros. Mas não há outro caminho, é preciso eficiência para garantir retorno do capital empregado”.
De acordo com o estudo, os municípios produtores de leite com maior destaque estão nas regiões Alto Paranaíba, entre os quais se sobressaem Patos de Minas, com 155 milhões de litros/ano; Ibiá, com 119 milhões e Coromandel, com 113,7 milhões. No noroeste mineiro, Unaí lidera com 113 milhões de litros anuais. Os maiores rebanhos de vacas ordenhadas se localizam no Triângulo e Alto Paranaíba, regiões próximas ao cultivo de grãos, o que torna a ração mais barata e facilita a logística da atividade.
De 2012 para 2013 a maior variação em vacas ordenhadas ocorreu na região central (7,8%), seguida por Rio Doce (6%), Triângulo (5,7%) e centro oeste (3,8%), embora o maior rebanho esteja no sul do estado, com 950 mil cabeças. Entre esses municípios destacam-se Prata (com 79,5 mil cabeças), Ibiá (74 mil) e Campina verde (65 mil). Entre 2003 e 2012 Minas Gerais ampliou em apenas três os municípios produtores de leite, passando de 849 para 852. A variação da produtividade foi também pouco significativa para 1.591,1 litros/vaca ano.
A utilização do crédito rural destinado à bovinocultura de leite no estado teve significativo aumento, passando de 3.910 contratos assinados em 2004 para 20.852 em 2013, elevação de 433,3%. Em 2004, o aporte financeiro foi de R$ 79,1 milhões; em 2013 chegou a R$ 1,2 bilhão, segundo dados do Banco do Brasil. Os valores referentes a 2014 ainda estão sendo analisados. A pecuária de leite utiliza mais crédito rural do que a de corte em função da sua maior necessidade de capital de giro.
Na análise de Elmer Almeida, “o produtor de leite pulveriza o investimento porque precisa aplicá-lo na aquisição de equipamentos (ordenha, silo, trator), formação de pastagens e na produção de silagem. Além disso, como a atividade leiteira tem elevada taxa de descarte de fêmeas, o pecuarista busca recurso também para aquisição de matrizes para reposição. A pecuária leiteira é mais dinâmica, tem maior demanda financeira que a de corte”.
Preços e exportações cresceram – O técnico da Emater lembra ainda que, para atender a recomendação da Organização Mundial de Saúde, de que o consumo individual de leite deve girar em torno de 200 litros/ano, o país precisaria dispor de uma produção de 40 bilhões de litros/ano. “Com o potencial brasileiro, isso não é difícil, mas a solução esbarra na gestão equivocada da propriedade, pois nossos produtores não têm visão empresarial. Com melhoramento das pastagens e seleção do rebanho facilmente atingiríamos o necessário”, reforça.
Segundo ele, a grande maioria dos produtores brasileiros precisa adotar procedimentos corretos. É fato que recebem orientação técnica, mas muitos têm resistência em adotá-las. . Se eles fizessem descarte do que é improdutivo e aplicar esse recurso em manejo, alimentação e genética, nem precisariam ir atrás de banco para financiar sua produção”, reforça. Como exemplo diz que há 30 anos está provado que cana com ureia é boa opção de alimento nos meses de seca, mas ainda existem produtores que deixam o gado passar fome no período.
De acordo com Lara de Souza, a produção de leite anual de Minas Gerais é historicamente crescente a uma taxa média de 4,2%. Sobre preços pagos ao produtor, diz que no primeiro semestre de 2014 as cotações foram superiores a 2013, mas a partir de setembro de 2014 a remuneração em Minas ficou, em termos nominais, menor do que em setembro anterior. Entre 2002 e 2014, o preço pago ao produtor do estado teve variação positiva de 25,05%, a preços de 2014”, calcula.
A análise de Wallisson mostra que a produção de leite continua sendo “um bom negócio em propriedades bem gerenciadas com pecuária leiteira em regime intensificado. Nos últimos 12 meses a atividade proporcionou retorno financeiro de 20%, enquanto a caderneta de poupança, aplicação mais conservadora, teve ganho de 6%”. Cauteloso, lembra que existem sistemas de produção com diferentes níveis de eficiência e ressalta que esse patamar de rendimento deve-se aos elevados preços pagos ao produtor.
Ele chama atenção para o fato de que “o produtor deve ser gestor de sua empresa rural dominando os indicadores técnicos e econômicos da atividade. Só assim ele tomará decisões com maiores chances de acerto”. Na visão do analista da Faemg, “a conjuntura da economia brasileira tende a manter consumo estagnado – em torno de 176 litros/habitante/ano, já que o país não tem previsão de crescimento este ano, o que certamente se refletirá no consumo de leite.
Completando, Francisco de Souza chama atenção para o fato de que as exportações brasileiras de lácteos aumentaram 102%, comparando o ano passado com 2013, gerando uma receita de US$ 346,2 milhões, um salto de 194% em divisas. Minas Gerais foi o Estado que mais ganhou com esse crescimento, já que suas exportações de leite e derivados aumentaram 909% no período, passando de 5,3 mil t para 28,3 mil t, uma receita de US$ 138,1 milhões). A Venezuela foi também o principal comprador dos laticínios mineiros, ficando com 89,2% da oferta.
Fonte: FAEMG