Os cortes no Orçamento da União, para fazer frente ao desequilíbrio fiscal, não param de fazer vítimas. Agora é o planejamento de tudo que se refere à produção, comercialização e exportação de produtos da agropecuária que fica comprometido. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) decidiu adiar pela segunda vez o Censo Agropecuário, trabalho fundamental para a formulação de políticas públicas e planos de investimentos do agronegócio.
Originalmente previsto para se iniciar em 2015 e concluído em 2016, o censo havia sido adiado para começar em 2017, por falta de recursos. Entretanto, antes disso, o IBGE teria que tomar providências preparatórias ainda este ano, incluindo a realização de processo seletivo e treinamento de 1.409 agentes temporários. Para isso, o órgão teria de contar com verba de R$ 330,8 milhões em 2016, que se somaria ao orçamento RS$ 1,3 bilhão a ser despendido em 2017, durante a realização da pesquisa.
Nas últimas semanas, a direção do IBGE vinha tentando a liberação dos recursos, uma vez que já tinha iniciado o processo de seleção do pessoal de campo, com a publicação de editais. Mas o Ministério do Planejamento acabou mantendo os cortes anteriormente definidos para vários setores da administração federal, incluindo parte do orçamento do IBGE.
Com isso e com a perspectiva de novos déficits fiscais para este e para o próximo ano, o Censo Agropecuário corre o risco de sofrer outros adiamentos, permanecendo sem data para ser realizado. É uma perda considerável para o setor de melhor desempenho da economia brasileira nos últimos anos.
O último censo veio à luz em 2006, com dados de 2005 e, nos últimos 10 anos, a evolução da produção agrícola brasileira, empurrada pela melhoria da renda da população e, principalmente, pelo aumento das exportações de commodities como a soja e carnes.
Para se ter uma ideia de quanto mudou a realidade do campo no Brasil nos últimos 10 anos, em 2005, a produção brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas foi de 133,3 milhões de toneladas. Agora, as projeções para a safra 2015/2016 já chegam a 210 milhões de toneladas. É claro que esse aumento teve impactos na ocupação do solo, na população envolvida na produção, no ritmo de crescimento de cada uma das regiões e tipo de lavoura ou produção pecuária.
Exemplos expressivos de evoluções registradas nos 10 anos que antecederam ao último censo são o comportamento de milho e soja. Enquanto a produção de soja saltou de 25,7 milhões de toneladas colhidas em 1995 para 52,7 milhões de toneladas em 2005, as safras de milho declinaram de 36,2 milhões de toneladas para 34,8 milhões de toneladas no mesmo período. Assim como a soja, a produção de carnes também refletiu o aumento das exportações brasileiras entre 2005 e 2015. A produção evoluiu de 12,8 milhões para 19,9 milhões de toneladas.
O detalhamento do que ocorreu no campo nos últimos 10 anos é informação fundamental para se projetar as necessidades de infraestrutura, produção de insumos, dimensão de mercados e potencial de aumento das exportações até 2016. O adiamento do Censo Agropecuário não é, portanto, pouca coisa e a geração de desequilíbrio fiscal, tampouco.
Jornal O Estado de Minas