O diretor da FAEMG e presidente das comissões de pecuária leiteira da entidade e da CNA, Rodrigo Alvim, destaca que um dos principais desafios da pecuária de leite nacional para conquistar o mercado externo é garantir um alto padrão sanitário dos animais, principalmente no que se refere ao controle da brucelose e da tuberculose.
Qual a sua avaliação da pecuária leiteira nacional?
Nós temos vocação para produzir leite. Temos um grande rebanho e animais produtivos. O país tem milhares de produtores que sabem produzir. Temos também entidades como a CNA e a FAEMG empenhadas em melhorar a competitividade do setor, criando e oferecendo ferramentas de gestão e assistência técnica com foco inclusive na qualidade. As iniciativas vão desde a formação de técnicos para assistir aos produtores até a capacitação do próprio pecuarista.
Ainda não conseguimos exportar. O que falta?
Investir na sanidade do rebanho. Estamos melhorando a qualidade no que se refere à contagem de células somáticas e de bactérias e aos níveis de gordura e de proteína. Controlamos bem doenças como a febre aftosa. Mas ainda patinamos no controle da brucelose e da tuberculose. Entrar no mercado internacional não é fácil e com a prevalência dessas doenças será impossível. A Rússia, que é o segundo maior importador global de leite, já declarou textualmente que não importa do Brasil porque não temos o domínio dessas duas zoonoses. Então não adianta produzirmos leite mais barato e com qualidade se não tivermos um perfeito controle sanitário dos rebanhos.
Mas temos um Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose – o
PNCEBT…
Temos, mas ainda não alcançou o formato ideal. Prova disso é que ele existe há mais de 10 anos e, em Minas, apenas 17 fazendas são certificadas como livres dessas zoonoses e outras 49 estão em processo de certificação. Para começar, o programa é de adesão voluntária. Mas o principal entrave é não dividir o ônus da erradicação e controle com a indústria e o governo. Quando se constata que um animal está infectado com uma dessas doenças, ele deve ser sacrificado e o prejuízo é do produtor. A indenização prevista em lei pelo abate equivale a um quarto do valor do animal. Isso desestimula o controle.
O que pode ser feito para modificar essa situação?
Precisamos de um programa que desenvolva a pecuária nacional. Uma política de ganha-ganha. As experiências bem-sucedidas no controle da brucelose e da tuberculose são as que oferecem indenizações mais justas pelo abate dos animais contaminados. Um bom exemplo é o programa Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, onde o governo, indústrias e produtores constituíram um fundo público-privado. O produtor entra com um percentual mínimo da venda do leite, mas quando necessita abater um animal por ser soropositivo é indenizado. Naturalmente, na maioria das vezes, não é indenizado pelo valor real do animal, mas por um valor médio estipulado. Isso tem incentivado a adesão. Então, é possível fazer acontecer, mas tem de haver uma situação em que o produtor não pague sozinho, a conta.
* A matéria foi publicada na edição 4 da revista FAEMG|SENAR.