Apesar da maior competitividade promovida pela desvalorização do real, frente ao dólar, os custos de produção no Estado estão mais altos, o que requer melhor administração das unidades produtoras.
“O produtor diante da conjuntura atual, em função também da seca, ficou mais receoso em investir justamente porque o custo de produção está maior. Fertilizantes e defensivos são importados e o custo tem ficado mais alto. Este ano também tivemos reajuste no valor da energia elétrica, que no caso de Itaipu é comercializada em dólar”, disse a coordenadora da assessoria técnica da FAEMG, Aline Veloso.
Ainda segundo Aline, pelo acompanhamento do PIB (Produto Interno Bruto) é possível observar percentuais negativos no segmento de insumos, o que mostra que o produtor tem reduzido as compras de fertilizantes e defensivos. No início de setembro de 2014, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 2,24, atingindo R$ 4,14 em igual mês de 2015 e encerrando a R$ 3,94 no dia 2 de outubro.
“O produtor, ao longo do primeiro semestre, se manteve bastante cauteloso, pensando que o dólar estava caro no momento e agora precisa adquirir o insumo com a moeda ainda mais valorizada. Isto pode significar uma redução dos investimentos, por parte dos produtores, em alguns tratos culturais da safra 2015/16, o que poderá impactar de forma negativa na produtividade”.
O produtor rural, presidente-executivo da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho) e ex-Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Alysson Paulinelli, explica que a situação do produtor com a alta do dólar é crítica, uma vez que os custos foram ampliados e não tem garantias de que a comercialização da safra será a preços que cubram a alta dos insumos, estimada em mais de 30%.
“De um lado a desvalorização do real frente ao dólar vai ajudar a comercializar a safra 2015, embora a maior parte dos produtores já tenha vendido. Quem tem volume disponível está conseguindo preços bons. Com relação à futura safra, estamos preocupadíssimos, porque o custo está bem mais alto, cerca de 30%, e a moeda não está estabilizada. Não sabemos o que fazer, os estão juros aumentando, os custos estão cada vez mais altos e não temos garantia de que vamos vender a safra a preços que compensem a alta provocada pelo dólar mais valorizado”, afirmou.
O impacto, segundo Paulinelli, é sentido em vários itens importantes para a produção de grãos, como os preços das sementes, dos fertilizantes, dos defensivos agrícolas, das máquinas e dos combustíveis. A safra 2015/16 também tem como desafios o seguro rural, que não funciona, e o acesso restrito ao crédito.
“O seguro é uma balela e o crédito rural inacessível. Existe uma controvérsia entre governo e as entidades bancárias, porque o governo diz que está sobrando dinheiro, mas os produtores não conseguem acessar os valores já que aumentou, em muito, as exigências para liberar os recursos das linhas”, disse.
Alta do dólar já impacta produção em Minas Gerais
A desvalorização do real frente ao dólar tem impactado o agronegócio de Minas Gerais. Se por um lado a moeda norte-americana mais valorizada torna as negociações de produtos, principalmente dos grãos e das carnes, mais competitivas no mercado internacional, por outro, os custos de produção ficam mais elevados. O produtor deve ficar atento às variações e buscar travar os preços de parte da produção na hora de comprar os insumos.
De acordo com o presidente do Corecon-MG (Conselho Regional de Economia de Minas Gerais), Antônio de Pádua Ubirajara e Silva, setores que são exportadores, como soja, milho, café e carnes, por exemplo, conseguem exportar maiores volumes e recebem valores que compensam o encarecimento dos custos de produção. Para ele, o aumento do dólar tem muitas razões, incluindo os aspectos de crise internacional, a crise política nacional e as especulações de mercado.
“Setores que são claramente exportadores, como a soja, milho e café, há vantagens sim com a desvalorização do real frente ao dólar. Só para se ter ideia, em 2014, quando a moeda norte-americana estava cotada entre R$ 2,70 e R$ 2,80, já estava compensando as exportações, em um momento de queda nos preços internacionais das principais commodities, em função da crise mundial e da redução da demanda da China. Com o dólar nos patamares atuais, em torno de R$ 4, as exportações estão sendo ainda mais favorecidas”.
Ainda segundo Ubirajara e Silva, outro setor que vem ampliando os ganhos com o dólar mais alto é o setor de carnes, com destaque para o frango.
“O segmento das carnes está conseguindo melhorar a competitividade no mercado internacional. No setor de frango as negociações estão bem interessantes e se sobressaindo em relação as demais. Isto pela capacidade que os avicultores têm em manter uma oferta mais estável, o que gera resultados melhores. A suína também está com bons resultados, porque os insumos não sofrem tanto impacto quanto de outras produções. No caso da bovina, por ter período de entressafra, que estamos entrando por agora, os resultados não são tão expressivos quanto nas demais”, explicou.
O grande desafio para os produtores se refere aos custos, que com a desvalorização do real estão mais altos. Isto por vários produtos serem importados ou avaliados em dólar, como os fertilizantes, defensivos agrícolas, combustíveis, sementes, entre outros.
“Os principais produtos do agronegócio de Minas Gerais são favorecidos, mas os custos têm que ser bem avaliados pelo produtor, uma vez que muitas empresas fazem financiamento em dólar. O produtor precisa comprar de forma casada, ou seja, na hora da adquirir o insumo ele tem que garantir parte da venda da safra, porque senão vai contrair uma dívida em dólar. Provavelmente haverá mudança na política de juros dos Estados Unidos, que deve ser ampliado, fortalecendo ainda mais o dólar”, afirmou.
De acordo com a coordenadora da assessoria técnica da FAEMG, Aline Veloso, com o dólar mais alto, as exportações de vários itens do agronegócio estão em alta. A expansão na atuação também está ligada ao maior rigor em relação às questões sanitárias, à fiscalização acirrada e à maior preocupação em relação à qualidade dos produtos.
“Estamos exportando um volume maior e poderemos ampliar, ainda mais, com o dólar nos patamares atuais, já que nossos produtos se tornam mais competitivos. Este ano cresceram os embarques de soja, lácteos, carne de frango, carne de peru, fibras e produtos têxteis, ovos, produtos apícolas, algumas plantas e produtos de floricultura e cereais e farinhas. O agronegócio está segurando a balança comercial, principalmente no complexo da soja”, disse Aline.