Nos últimos anos, os centros urbanos brasileiros passaram por intenso movimento de mobilidade social, cujo principal resultado foi o surgimento de uma nova classe média no país. A ascensão de milhões de pessoas das classes D e E para a C incrementou a economia e formatou nova pirâmide social no Brasil. Entretanto, milhares de pequenos produtores ficaram à margem do processo e, portanto, chegou a hora de lhes proporcionar condições para que produzam mais e melhor e tenham condições de viver bem.
Há no campo brasileiro um cenário de concentração de produção e de renda. Aproximadamente 78% das propriedades rurais brasileiras pertencem às classes D e E, respondendo por apenas 9% da produção agrícola nacional. As classes mais prósperas concentram 70% da produção brasileira.
Em Minas Gerais, o quadro não é diferente. Existem cerca de 551 mil propriedades rurais. Dessas, 61,76% são minifúndios; 25,6% pequenas propriedades; 8,5% são médias e apenas 1,8% de maior porte. Está na hora de buscarmos um equilíbrio econômico e social que seja benéfico para todos e para o país. Por isso a Faemg decidiu empenhar-se para transformar pequenos produtores em médios – iniciativa que está em linha com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os principais obstáculos são as restrições de fora da porteira. Hoje, os pequenos produtores têm dificuldades de comercialização, compram insumos mais caros, pagam mais por aluguel de máquinas e equipamentos, porque a escala de produção e de consumo é baixa. Além disso, têm pouco acesso à tecnologia e à inovação, que poderiam aumentar a produtividade e, por consequência, a competitividade. Há também restrições da porteira para dentro: o foco do pequeno produtor rural geralmente é produzir para subsistir, pois atividades essenciais ao seu desenvolvimento, como planejamento do negócio e gestão, não lhes parecem importantes e nem estão ao seu alcance fácil. É preciso despertá-los para o sentimento empreendedor.
Para provocarmos uma mudança de patamar, a extensão rural é fundamental. Precisamos levar conhecimento aos pequenos produtores rurais, capacitando-os a se tornarem médios empresários. O Senar Minas tem feito um trabalho exemplar nesse sentido com programas como o Gestão com qualidade em campo, cujo propósito maior é estimular uma mudança de atitude: “de agricultor para empresário rural”. São horas de aulas teóricas acompanhadas de consultorias individuais, levando aos produtores conhecimento de gestão e melhoria de processos, buscando conjugar eficiência produtiva com administrativa e incentivar decisões com base na racionalidade econômica.
O desafio é justamente fazer com que os pequenos produtores enxerguem suas propriedades como um negócio e opção de investimento, e destinem mais tempo à gestão, buscando e encontrando soluções para vencer os mais diversos tipos de problemas. Os resultados surgem aos poucos. No Vale do Mucuri, uma das regiões mais carentes do estado, produtores que participaram do programa criaram um consórcio que, todos os meses, sorteia recursos entre seus integrantes. O dinheiro é utilizado em melhorias da propriedade – e essas melhorias são acompanhadas pelos participantes do consórcio. Mais de 1,6 mil propriedades rurais mineiras já participaram do programa.
Mudar a atual pirâmide social do campo, ampliando a classe média, requer persistência, paciência e convicção de que esse é o melhor caminho para o setor. Envolve também parcerias com empresas e com o poder público. Abrange, enfim, toda a sociedade, já que os benefícios da iniciativa voltarão de forma surpreendentemente positiva para todos. A FAEMG, por conseguinte, vai atuar tanto na área política como na técnica para oferecer aos pequenos produtores a oportunidade de subir na escala rural, proporcionando-lhes condições de aumentar a produção, elevar a renda e desfrutar junto com a família do resultado do seu trabalho.
Roberto Simões
Presidente do SISTEMA FAEMG