As chuvas constantes registradas em janeiro estão afetando o desenvolvimento da primeira safra de feijão em Minas Gerais e no Paraná, estados que concentram os maiores plantios do grão e são os grandes fornecedores para as demais regiões do País. Com a maior umidade, a ocorrência de doenças, de mofo e brotamento dos grãos ainda nas vagens têm causado perdas na produtividade, próximas a 40%. O efeito da escassez é observado nos preços do grão, que ficaram cerca de 20% mais caros em janeiro e a tendência é de novas altas.
De acordo com o presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), Marcelo Eduardo Lüders, o desabastecimento deve perdurar até março e a tendência é de preços firmes para os produtores e nos supermercados. A situação só deve mudar a partir de abril, quando começa a chegar ao mercado o feijão da segunda safra.
“A oferta de feijão ao longo dos primeiros três meses do ano tende a ser menor que o consumo devido às chuvas excessivas que afetaram a produção em importantes estados e causou o desabastecimento. A menor oferta ganha importância pelo grão não ser substituível e por estar presente nas refeições. Em Minas Gerais, por exemplo, 82% da população consomem o feijão durante cinco dias da semana. Antes se usava a lentilha em substituição, mas, como o produto é importado, os preços dobraram no último ano e tornaram a opção inviável”, observa.
Ainda segundo Lüders, a situação dos produtores de feijão é crítica. Isto pela cultura ter os custos elevados, o que foi agravado pelo real desvalorizado frente ao dólar, fator que aumentou ainda mais os gastos com insumos. Com o clima desfavorável, a produtividade nas lavouras recuou, em média, 40% e nem mesmo os preços mais elevados são suficientes para garantir margem.
Além da quebra de safra provocada pelo clima, outros fatores como a concorrência com a soja e com o milho, que têm preços mais elevados e podem ser exportados, também contribuíram para que a área destinada ao cultivo ficasse menor, limitando ainda mais a oferta.
Conab
Conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em Minas Gerais, segundo maior produtor, são 148 mil hectares dedicados à cultura, queda de 7% frente à safra anterior. Já no Paraná, maior produtor nacional, a queda foi de 6,4%, com o uso de 180 mil hectares.
A menor área cultivada e as perdas observadas no campo fizeram com que os preços pagos aos produtores ficassem cerca de 20% maiores ao longo de janeiro. A saca de 60 quilos que era negociada no Estado a R$ 180 alcançou R$ 220, variação positiva de 20%.
Ofertas escassas e preços em alta no mercado
O mercado brasileiro de feijão registrou, na semana passada, oferta escassa e preços em alta no Brasil. O feijão carioca extra 9 foi comercializado a um preço médio R$ 217,50/saca, o carioca especial 8,5 é negociado a uma cotação média de R$ 215,00/saca.
De acordo com relatório semanal divulgado pela empresa de consultoria em agronegócio Safras & Mercado, em Minas Gerais a situação é dramática, pois os produtores estão sofrendo perdas com as chuvas, principalmente na região do Triângulo Mineiro, onde várias lavouras já foram abandonadas. Na região de Unaí, as chuvas também causaram problemas, mas o maior volume da primeira safra ainda será colhido em fevereiro.
O Deral (Departamento de Economia Rural), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, divulgou sua estimativa semanal de safra e apontou que 20% da área estimada de feijão 2ª safra 2015/16, de 200,222 mil hectares, foi cultivada até o momento.
Conforme o Deral, 84% das lavouras estão em boas condições, 11% em situação média e 5% com aspecto ruim, divididas entre as fases de germinação (70%) e crescimento vegetativo (30%).
As condições meteorológicas da semana, com tempo seco e sem chuvas, permitiram a evolução da colheita, que atinge 36% da área estimada no Rio Grande do Sul, conforme a Emater. A situação das lavouras segue de maneira heterogênea; há perspectivas de boas produtividades, como nas regiões Celeiro, Noroeste Colonial e Alto Uruguai, demonstradas nas áreas já colhidas, e de menor produção em outras regiões em razão das prolongadas precipitações que reduziram o potencial produtivo, como nos Altos da Serra do Botucaraí.
Nos Campos de Cima da Serra, última região a implantar as áreas com feijão da primeira safra (lavouras do tarde), e que foram cultivadas na resteva do trigo, apresentam bom desenvolvimento, com poucas falhas de germinação nas áreas de baixada onde o solo permaneceu encharcado logo após a semeadura.
A comercialização de feijão mantém-se estável, com pequeno aumento no preço médio que subiu 1,88%, chegando a R$ 142,20/ saca de feijão preto.
Produtores podem ter prejuízos
“A maioria dos produtores investiu e terá prejuízos. A cultura do feijão tem risco elevado e, por isso, os agricultores estão migrando para outras opções. O impacto do clima na produção da soja e milho também é menor, já que os grãos afetados podem ser utilizados na produção de óleo e farelo, por exemplo. O produtor de feijão não tem esta opção, sendo obrigado a descartar a planta com defeito ou a negociar a preços muito baixos”, explicou presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders.
Ainda segundo o presidente do Ibrafe, o quilo do feijão de classificação média que era negociado nos supermercados em Minas Gerais a R$ 3 o quilo, no início de janeiro, hoje está cotado entre R$ 4,5 e R$ 5 o quilo. A expectativa é subir para R$ 6 a R$ 7, o quilo em fevereiro. Os feijões de alta classificação vão superar esses valores.
O feijão carioca é o mais consumido no País, respondendo por 70% do mercado. Os demais têm consumo baixo, porém, tem a vantagem de poder ser utilizado para substituição do carioca e até mesmo para a exportação.
A produção mineira na primeira safra, segundo os últimos dados da Conab, com base em dezembro, portanto sem avaliar as perdas de janeiro, foi estimada em 192,4 mil toneladas, alta de 17% que seria alcançada pela recuperação da produtividade, que no ano anterior foi prejudicada pela seca.
O rendimento esperado inicialmente era de 1,3 tonelada por hectare, mas deverá ser revisado. Do volume total a ser colhido na primeira safra, 98,44% são de feijão carioca e somente 1,55% de feijão preto.
Ainda segundo Lüders, caso a escassez persista, é possível importar feijão de outros países como dos Estados Unidos, China e México, que são produtores de feijão vermelho, rajado e preto.
Paracatu
Em Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais, e segundo maior município produtor atrás de Unaí, a produção de feijão vem sofrendo os efeitos do excesso de água. De acordo com o extensionista agropecuário da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) Júlio Cesar Ribeiro, as chuvas constantes têm feito com que os grãos brotem ainda na vagem, ocorra o apodrecimento e apareçam doenças.
“O momento atual é de maturação final, mas as chuvas vêm prejudicando a produtividade. Caso as chuvas persistam, os prejuízos serão enormes”, explicou Ribeiro.
Em relação à segunda safra do grão, a tendência é que os produtores apostem no plantio, incentivados pelos valores elevados do feijão. Porém, como a semeadura da primeira safra foi tardia, o que acarretou no atrasou da colheita, o clima será o grande desafio.
Fonte: Diário do Comércio