Com o mercado global bem abastecido após a expansão dos investimentos na produção motivada pelos preços elevados do início desta década, os cafeicultores brasileiros provavelmente terão que conviver com cotações ainda mais baixas que as atuais no curto e médio prazos.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, essa tendência de aprofundamento da queda dos preços deverá afetar principalmente o café arábica, cujo fornecimento mundial é liderado pelo Brasil.
Mendonça de Barros afirmou, em palestra durante o 21º Encafé (Encontro Nacional das Indústrias de Café), promovido pela Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café) no Guarujá (SP), que grande parte do recuo recente dos preços da commodity pode ser creditada à desvalorização do real frente ao dólar. E, conforme o economista, a expectativa é que a moeda americana se valorize mais no próximo ano, quando o Banco Central dos Estados Unidos deverá iniciar o ajuste de sua política monetária.
O economista realçou a pressão “gigantesca” que paira sobre os cafeicultores brasileiros diante da diferença entre os custos de produção, que beiram os R$ 400 por saca de 60 quilos da espécie arábica, e os preços de comercialização do produto, que giram entre R$ 255 e R$ 260. O cenário, para ele, poderá motivar uma reorganização da estrutura de produção.
Conforme Mendonça de Barros, só vão sobreviver na atividade os produtores familiares com um mínimo de tecnologia e que não contratam mão de obra, os cafeicultores que apresentam elevada produtividade e mecanização e aqueles que produzem café de “altíssima qualidade”, além dos produtores de café robusta que têm custos mais baixos e elevado rendimento. Nesse contexto, os mais prejudicados são os médios produtores, em grande medida por sofrerem mais com a escassez de mão de obra.
O aumento do consumo brasileiro de café passou por uma desaceleração nos últimos anos. Parte dela pode ser explicada pela redução do efeito de incorporação das camadas mais baixas da população ao mercado consumidor, observou Mendonça de Barros. “Não existem mais 13 milhões de famílias à margem do consumo. O grosso da inclusão já foi feito”.
Em 2013, conforme Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic, o consumo de café no país deverá crescer entre 2,5% e 3% em relação a 2012 e alcançar a marca de 21 milhões de sacas de 60 quilos.
Já o faturamento da indústria poderá aumentar entre 10% e 15% na comparação com o ano passado (R$ 7,5 bilhões). O crescimento, afirma Herszkowicz, reflete o maior volume comercializado e um processo de reajuste de preços iniciado ainda em 2012 para compensar o aumento dos custos no ano anterior, quando as cotações da matéria-prima registraram forte alta.
A posterior queda dos preços da commodity, iniciada no fim de 2011, teve mais impacto nos preços do café tradicional, cujo valor médio na capital paulista recuou de R$ 15 o quilo, em 2012, para cerca de R$ 13 atualmente, conforme o diretor-executivo da Abic. O reajuste que ocorreu nos preços do café industrializado foi sentido sobretudo nos produtos de qualidade superior.
De acordo com Herszkowicz, a Abic avalia investir R$ 900 mil no ano que vem para promover o consumo doméstico de café.
Jornal Valor Econômico