Durante muito tempo, o café foi tratado como commodity, uma mercadoria de baixo valor agregado. Hoje, a realidade é bem diferente. No Brasil e no mundo, os consumidores não querem mais um café qualquer.
O café faz parte da história do Brasil e de boa parte do mundo. O grão foi descoberto na Absínia, hoje Etiópia, há cerca mil anos por um jovem pastor chamado Kaldi, que observou suas cabras mais alegres e saltitantes depois de mastigar os frutos maduros avermelhados, foi ganhando espaço em vários países e hoje é uma das bebidas mais apreciadas em todos os continentes.
Contudo, durante muito tempo, o café foi tratado como commodity, uma mercadoria de baixo valor agregado. No passado, havia pouca preocupação com a qualidade. Visava-se basicamente os ganhos em escala. Quanto maior a quantidade produzida, maior o lucro.
Hoje, a realidade é bem diferente. No Brasil e no mundo, os consumidores não querem mais um café qualquer. Junto com a paixão pela bebida, desenvolveu-se também o hábito de pesquisar sobre o produto, conhecê-lo mais a fundo, apreciá-lo. Assim, nasceram as certificações e o conceito de café especiais, capazes de garantir a pureza e a origem da bebida.
De duas décadas para cá, o segmento cafeeiro que mais cresceu foi o de cafés especiais, que hoje já representa 12% do mercado internacional do produto. Mesmo custando cerca de 30 a 40% mais que o café comum, o gourmet, como é chamado, tem conquistado cada vez mais adeptos.
Com esse refinamento, surgiu também algumas novas variações. Ganha o mercado o café orgânico, o descafeínado, o aromatizado. Sabores muitas vezes impensáveis, ganham as xícaras trazendo uma dose forte de inovação.
As associações, entidades do setor e fabricantes, passaram a criar premiações, referenciando os melhores produtos. Tudo isso faz com que o consumidor torne-se cada vez mais exigente, ansioso por provar novos sabores.
E, novidade não faltou de um tempo para cá, desde o surgimento do café em cápsulas. Com a entrada de novas marcas nesse segmento, experimentar os diferentes sabores apresentados nas cápsulas tornou-se praticamente um hobby. Uma máquina de café numa posição de destaque na cozinha ou na sala de jantar virou praticamente um objeto de decoração bastante cobiçado.
Com todas essas transformações, o cafezinho do dia a dia ganhou novos ares e espaços no cotidiano das pessoas. Um bom jantar, precisa ser finalizado com um café de alta qualidade. O mesmo se espera de uma reunião importante de negócios. Deste modo, o café saiu definitivamente da posição de commodity para se transformar num prazer cotidiano, ocupando o espaço de estrela do dia ou da noite.
Clodoaldo Iglezia
Degustador de café e diretor industrial da Baggio Café.