A poucos dias do encerramento de 2012, a avaliação da FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) sobre o ano que passou é bastante positiva, com alta de 11,4% do valor bruto da produção do Estado, calculado em R$ 26,2 bilhões. A agropecuária mineira cresceu 5,7%, ainda que algumas cadeias produtivas tenham passado por maus momentos, com altos custos de produção e preços finais pouco compensatórios.
Para o presidente da FAEMG, Roberto Simões, 2012 foi marcado, de forma geral, pelo crescimento de renda para o produtor mineiro, principalmente do setor agrícola, já que a pecuária continua no negativo para a maioria dos produtos: “A produção mineira apresentou crescimento, ainda que com redução de áreas cultivadas; reflexo da tecnologia no campo trazendo resultados importantes, como as safras recordes de grãos e de café”.
Levantamento do IBGE mostrou que Minas Gerais conquistou o segundo lugar no ranking nacional do valor bruto da produção agrícola, relativo à 2011. Com uma contribuição de 12,7% (R$ 24,8 bilhões), o Estado deixou a quarta colocação obtida no ano anterior, ficando atrás apenas de São Paulo, com 17,7% do total.
Para se ter uma ideia, o estudo indicou que a produção agrícola rendeu ao país R$ 195,6 bilhões em 2011, crescimento de 27,1% em relação ao ano anterior. Para o fechamento de 2012, indicadores do Ministério da Agricultura apontam para novo recorde do valor bruto da produção das principais culturas agrícolas, atingindo R$ 235,7 bilhões. Já para 2013, a perspectiva é que esse valor chegue a R$ 291,7 bilhões.
Roberto Simões lembra que os números são mera projeção, já que os dados de 2012 ainda não estão fechados, mas a expectativa do setor acompanha o cenário desenhado: “É esperado que Minas repita o bom desempenho que nos projetou no ranking do VBP nacional, especialmente graças à valorização de diversos produtos em que temos grande participação”.
| Liderança – Minas Gerais tem muito a comemorar: o Estado é o maior produtor de café, respondendo por mais da metade do total produzido no Brasil, e o maior produtor de leite do país, com 27,3% do volume nacional, ou cerca de 8,7 bilhões de litros/ano. Minas lidera também a produção brasileira de batatas e detém o maior plantel nacional de equinos, com cerca de 800 mil animais, tendo sido berço das principais raças. O Estado é ainda o segundo maior produtor de alho, sorgo, feijão, cana de açúcar e possui o segundo maior rebanho bovino e de muares. Para completar, ocupa terceira colocação na produção de abacaxi, milho, ovos de galinha e de codorna, tomate e laranja.
A produtividade resulta de uma associação favorável entre clima, solo e abastecimento de água, mas o segredo mineiro, para o presidente da FAEMG, Roberto Simões, está na diversificação da produção agropecuária: “Minas Gerais é um Estado privilegiado. Como o agronegócio é diversificado, quando um produto tem problema, os outros fazem a compensação. Onde a monocultura predomina, qualquer variação afeta duramente a renda dos produtores e as finanças do estado”.
Resumo de 2012 e projeção para 2013, por segmento:
Café – Para a cafeicultura, a safra foi de ciclo alto em 2012, 16% maior que a anterior. Segundo dados da Conab, dos 50 milhões de sacas produzidas no país, 26,63 milhões saíram de Minas Gerais (um incremento de 20,07% em comparação com a safra mineira anterior). Os preços, que estavam em patamares altos, começaram a declinar a partir de maio. Assim, o grande desafio do setor será recuperar a renda perdida durante o ano.
Para a safra de 2013 é esperado ciclo baixo e aumento de consumo do grão no mercado interno, passando de 21 milhões de sacas. Para o diretor da FAEMG e presidente das Comissões de Café da entidade e da CNA, Breno Mesquita, a associação entre a oferta menor e políticas federais que se fazem necessárias, poderá ser possível almejar preços melhores.
Acontecimento importante em 2012 – e que marcará ainda mais o ano que entra – foi conquistar o maior evento mundial do café para o Brasil. O encontro da OIC (Organização Internacional do Café) na capital mineira, em setembro, será comemorativo ao cinquentenário da entidade e reunirá produtores e compradores de café de dezenas de países. O evento contribuirá ainda mais para a consolidação do Estado como produtor de cafés de excelentes qualidades.
Leite – Para a cadeia produtiva do leite, 2012 certamente não deixará saudades. O ano foi marcado por altos custos de produção, grande volume de importações e queda de preços para o produtor em pleno período de entressafra no Centro-Sul.
É esperado cenário bastante melhor no ano que entra, a começar pela expectativa de redução da produção mundial e menores estoques, sobretudo nos Estados Unidos e União Europeia. Caso a projeção se confirme, os produtores poderão comemorar o aumento dos preços internacionais e diminuição das importações brasileiras. “Se, a este cenário, somar-se ainda uma política cambial adequada, o Brasil poderá até mesmo ter condições de sair da posição de grande importador e tornar-se exportador mais uma vez”, acredita o diretor da FAEMG e presidente das Comissões de Pecuária de Leite da entidade e da CNA, Rodrigo Alvim. Ele lembra, no entanto, que a concretização deste cenário dependerá ainda de políticas de defesa comercial; em especial a prorrogação de medidas antidumping e do acordo com a Argentina.
Outra boa notícia aguardada pelo setor será realidade logo no início de 2013. O Programa Produção de Leite de Qualidade, parceria entre Senar e Sebrae, chegará ao campo em janeiro, garantindo mais competitividade para a produção nacional.
Grãos – O ano termina com safra recorde de grãos em Minas Gerais, total de 12 milhões de toneladas. O mercado viveu forte movimentação em função de vários problemas climáticos ao longo do ano, na América Latina, com as secas no Brasil, Argentina e Paraguai e no hemisfério Norte, com a quebra de safra nos EUA, Rússia e outros países. “Cenário pouco comum na economia, para os grãos 2012 foi de preços altos mesmo com grande oferta, já que a demanda foi ainda maior”, explica o presidente da FAEMG.
Os preços das commodities, sobretudo milho e soja, atingiram valores recordes no mercado interno e internacional. Bons resultados na exportação de ambos os grãos mantiveram a balança do agronegócio crescendo ao longo do ano, mesmo com o cenário de crise. O feijão, outra cultura importante, também sofreu em 2012 os efeitos do clima, dos preços e das importações. A China descobriu o mercado brasileiro e vem investindo fortemente na exportação para nosso país, concorrência que pode, em breve, representar um grande problema para a produção nacional, sobretudo para o pequeno produtor.
De forma geral, 2013 deve refletir o ano vivido pelo setor de grãos, com preços um pouco menores, mas ainda muito acima da média, principalmente para milho e soja. O mau momento da economia mundial deve limitar a expansão de preços e mercados. Novas oscilações podem decorrer de alterações climáticas ou da crise econômica mas, a princípio, a expectativa é de nova safra recorde. Minas deve colher, em 2013, cerca de 3,3 milhões de toneladas de soja, volume 8,6% superior ao registrado no ano passado, segundo levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A projeção para a renda da soja em 2012 é de aumento de 19,1% em relação ao ano passado, para R$ 68,7 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura. O estudo aponta ainda para expressivo aumento de 52% previsto para o valor da produção da soja no próximo ano, estimado em R$ 104,3 bilhões.
Carnes – A pressão dos custos foi fator fundamental para um ano muito complicado para o segmento das carnes, em especial para aves e suínos, cuja alimentação depende do milho e da soja. Outro problema enfrentado pelo setor foi a imposição de barreiras em mercados como Rússia e África do Sul, que restringiram as exportações brasileiras; já prejudicadas pela crise econômica. O mercado interno não foi suficiente para compensar os problemas do mercado internacional.
Assim, uma prioridade para o setor em 2013 deve ser a negociação das restrições de importações. O Brasil precisa se organizar para atender as exigências e evitar que novas barreiras sejam levantadas, especialmente aquelas com fins protecionistas. A melhoria dos indicadores mundiais poderia dar alento ao setor, uma vez que os custos de produção continuarão pressionados pelos preços dos grãos ainda acima da média.
Cana-de-açúcar – O ano foi muito positivo para a cana-de-açúcar, com relativa recuperação de preço para o produtor (fornecedor de usina), além de crescimento da produtividade (6,9%) e da produção (3,9%), que atingiu a marca de 52,2 milhões de toneladas, segundo dados da Conab para Minas Gerais. O cenário resultou em aumento da renda do setor de forma geral.
Ainda assim, o mercado passa por momento um pouco complicado. O preço do açúcar no mercado internacional sofreu quedas recentes e o etanol continua com dificuldades de concorrer com a gasolina nos postos, em função da política do Governo de manutenção dos preços do biocombustível no país.
O setor tem expectativas positivas para 2013, já que é esperado para meados do próximo ano o retorno da mistura de 25% de etanol à gasolina. Há também a perspectiva de fim do congelamento de preços dos derivados de petróleo, dado o comprometimento da rentabilidade e dos investimentos da Petrobrás. Para o açúcar, é esperado retorno de crescimento dos preços, rompendo ciclo de queda dos últimos dois anos.
2013
O presidente da FAEMG, Roberto Simões, acredita que, no próximo ano, o agronegócio deve manter a trajetória positiva dos últimos anos: “O desempenho de cada produto está vinculado a uma série de fatores, da crise mundial e as políticas econômicas aos fenômenos climáticos. De forma geral, esperamos outro ano igualmente bom, mas de muito mais estabilidade para a agricultura e a pecuária”.
Ele lembra ainda que o agronegócio tem sido, por muitas décadas, um dos mais fortes setores da economia, grande empregador de mão de obra, grande contribuinte do PIB nacional e majoritariamente superavitário: “O campo segurou a economia brasileira mais uma vez, e Minas vem se destacando”.
Para o coordenador da Assessoria Técnica da FAEMG, Pierre Vilela, é esperado que a crise econômica continue tendo reflexos no Brasil em 2013, com expectativa de baixo crescimento interno que, em 2012, já deixou muito a desejar. Para ele, é fundamental que algumas políticas sejam revistas. Vilela acredita que um dos alicerces mais falhos e que mais precisam de aperfeiçoamento é a política de garantia de renda, que inclui o seguro rural e as ferramentas de mercado futuro: “São suportes que de fato existem, mas são muito restritos, e precisariam de muito mais acessibilidade. É preciso que o produtor possa depender menos do Governo e ter mais segurança na produção”.