Todo dia é dia de café, como comprova o fato de 95% dos brasileiros acima dos 15 anos consumirem ao menos uma xícara diariamente. Só isso já poderia ser considerado uma grande homenagem a essa bebida. Mas desde 2005, quando a data 24 de Maio foi incorporada ao Calendário Brasileiro de Eventos como Dia Nacional do Café, a comemoração ganhou outra dimensão, passando a ser festejada por industriais, produtores, exportadores, cooperativas, varejo, cafeterias e por todos os apaixonados por café.
A sugestão de se criar o Dia Nacional do Café no mês de maio, época que marca o início da colheita na maioria das regiões produtoras do país, foi feita pela ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café. O objetivo é promover, valorizar e manter viva, junto aos consumidores, a importância histórica, social e econômica deste produto que é cultivado há 284 anos em terras brasileiras, desde que as primeiras mudas foram trazidas da Guiana Francesa para Belém, no Pará, por Francisco Melo Palheta, em 1727.
Ao resgatar a história, a ABIC também pretende mostrar a razão dessa bebida mundialmente milenar se manter tão moderna e atual: uma prazerosa xícara de café é fonte de energia e também de pausa na correria do dia a dia.
Pureza agora é Lei
Pingado com leite, coado, filtrado, com ou sem creme, tirado de uma máquina de ‘espresso’, adoçado ou não, cappuccinos, feito na prensa francesa. Não importa qual a receita, o fundamental é que o café seja puro – que é o primeiro passo para a qualidade. Exatamente por isso a ABIC elegeu como tema das celebrações deste ano o seu programa do Selo de Pureza. Criado há 22 anos, o programa ganhou mais destaque em fevereiro passado, quando entrou em vigor a Instrução Normativa N°16, do Ministério da Agricultura, que estabelece o limite máximo de 1% de impurezas no produto – mesmo percentual do programa da ABIC, que foi a base para a normativa do governo.
O programa do Selo de Pureza foi criado para reverter a queda no consumo que vinha sendo registrada principalmente no decorrer da década de 1980. Os brasileiros estavam deixando de tomar café num veto silencioso contra a baixa qualidade do produto e a sua adulteração. Enquanto em 1965 o consumo per capita era de 4,72 kg por habitante/ano, em 1985 caiu para 2,27 kg. Esse foi o grande alerta que fez a ABIC apresentar, em 1987, ao hoje extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café, a primeira proposta de as indústrias se autofiscalizarem. Em 10 de novembro de 1988 foi baixada pelo IBC a Resolução N. 80, que transferia para a ABIC o monitoramente da qualidade do setor, assim como todas as despesas com coletas e análises de amostras de café. Desde então, mais de 52 mil amostras já foram coletadas e analisadas.
Hoje, com a Instrução Normativa N° 16, pureza é lei, e o Ministério da Agricultura poderá punir as indústrias que produzirem café fora das especificações. E a ABIC não só continuará com o seu programa, paralelamente ao do governo, como o está reforçando junto às indústrias e ao varejo. Primeiro, porque o monitoramento feito pela entidade, combinado com outros instrumentos como as pesquisas de opinião, serve para que ela possa orientar as torrefadoras, corrigindo os rumos e se antecipando às tendências de consumo. Em segundo lugar porque o Selo de Pureza estampado na embalagem é a garantia para o varejo e o consumidor de estarem adquirindo um produto puro e dentro da lei.
Desde o início, a seriedade e a transparência do processo de coleta e análise asseguraram a credibilidade do programa do Selo de Pureza junto ao mercado e aos consumidores. As amostras de café são coletadas, sistematicamente, por auditores independentes e apenas nos pontos de venda, nunca na fábrica (a mesma conduta foi adotada na IN 16, e os fiscais do MAPA farão a coleta apenas no varejo). Após a coleta, elas são enviadas aos laboratórios credenciados que, após análise, emitem um laudo sobre sua composição.
Por meio do Programa Permanente de Controle do Café mais de 2,8 mil amostras de café são coletadas todos os anos, o que de fato tem inibido a ação de empresas que tentam adulterar seus produtos. “Por isso mesmo, o Selo de Pureza continua sendo fundamental para o combate à fraude e à comercialização de cafés de baixíssima qualidade e com alto percentual de impurezas”, diz o presidente da ABIC, Almir José da Silva Filho.
Qualidade de ponta a ponta
Ao Programa do Selo de Pureza viriam a se juntar, em 2004, o PQC – Programa de Qualidade do Café, que passou a trabalhar o mercado em categorias de produtos (Tradicional, Superior e Gourmet); o PCS – Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, lançado em 2006 e que certifica que aquele café foi produzido respeitando a sustentabilidade econômica, ambiental e social, desde a lavoura até a indústria; e o CCQ – Círculo do Café de Qualidade, lançado em 2007 e que qualifica e certifica os estabelecimentos que promovem os cafés de qualidade.
Todas essas ações, iniciadas com o Selo de Pureza, primeiro programa setorial de certificação de qualidade de alimentos no Brasil, resultaram em um grande crescimento do mercado. Dos pouco mais de 6 milhões de sacas industrializadas em 1985, se tem hoje uma demanda de 19,13 milhões de sacas. Um crescimento conquistado devido aos consumidores, que já reconhecem a melhora da qualidade do café que lhes têm sido oferecido e que vão comemorar o Dia Nacional do Café tomando com prazer uma aromática xícara de café.